Presença de sete governadores em manifestação pró-anistia liderada por Jair Bolsonaro gera desconforto no Supremo Tribunal Federal. Estratégia política de olho em 2026 é vista como contraditória por ministros da Corte.
A recente manifestação pró-anistia promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), realizada na Avenida Paulista no último domingo (6), reacendeu tensões entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e lideranças políticas de direita. Segundo apuração do colunista Igor Gadelha, do portal Metrópoles, ministros do STF enviaram, nos bastidores, um recado direto a governadores que marcaram presença no evento: a participação deles foi vista como um gesto contraditório e preocupante.
Ato político com peso eleitoral
O evento, que reuniu milhares de apoiadores do ex-presidente e sete governadores de diferentes regiões do país, teve como principal pauta a defesa da anistia para Bolsonaro e outros envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Estiveram presentes os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso), Wilson Lima (Amazonas), Jorginho Mello (Santa Catarina) e Ratinho Júnior (Paraná). Todos eles representam espectros da direita e centro-direita e, segundo interlocutores do STF, compareceram ao ato com objetivos estratégicos de olho nas eleições de 2026.
STF critica dualidade de posturaMinistros do Supremo avaliam como “incoerente” a presença desses líderes políticos em manifestações que, frequentemente, direcionam críticas e ataques à própria Corte. Conforme relatado por fontes ouvidas pelo Metrópoles, há desconforto pelo fato de governadores recorrerem ao STF em busca de decisões favoráveis em suas gestões estaduais, ao mesmo tempo em que participam de atos que colocam o tribunal sob suspeita diante da opinião pública.
“É como se estivessem atirando no teto da própria casa”, comentou uma fonte ligada à cúpula do Judiciário.
Alta exposição e riscos jurídicosAlém do simbolismo político, a presença dos governadores nos atos pró-Bolsonaro pode trazer implicações jurídicas. A proximidade com pautas que contestam o processo democrático e pedem medidas como anistia pode ser interpretada como endosso a práticas antidemocráticas. Em tempos de tensão institucional, qualquer sinalização pública tem peso — especialmente quando envolve chefes de executivos estaduais.
Bolsonaro mira 2026, mesmo inelegívelApesar de inelegível, Jair Bolsonaro segue sendo uma figura central na direita brasileira. Governadores que participaram do evento teriam, segundo avaliação do próprio STF, comparecido em busca do apoio bolsonarista para futuras campanhas, seja para reeleição, seja para construção de candidaturas nacionais. Tarcísio de Freitas, em especial, é frequentemente apontado como possível nome da direita para disputar o Palácio do Planalto em 2026.
Reação política e críticas do PTDo lado oposto do espectro político, líderes do PT e de partidos aliados também reagiram negativamente ao ato. A avaliação é de que a manifestação foi mais um episódio de enfrentamento às instituições, o que pode prejudicar a estabilidade democrática. A possibilidade de pautar uma eventual anistia a Bolsonaro no Congresso também sofreu um revés após a repercussão do evento. Para parlamentares da base do governo Lula, seria um “desrespeito institucional” conceder anistia a envolvidos nos atos antidemocráticos de janeiro de 2023.
Alta tensão institucionalA relação entre o Supremo Tribunal Federal e setores políticos conservadores tem sido marcada por embates constantes. A presença de autoridades eleitas em manifestações críticas à Corte reacende debates sobre os limites da liberdade política e os deveres institucionais de quem ocupa cargos públicos. O STF, por sua vez, procura manter sua autoridade frente a uma sociedade polarizada e a um cenário de disputas antecipadas por espaço político.
ConclusãoO recado dos ministros do STF aos governadores evidencia o clima de instabilidade política que segue pairando sobre Brasília. Com 2026 no horizonte e Jair Bolsonaro ainda exercendo forte influência política, o Brasil caminha para novos capítulos de embates entre Judiciário e Executivo, onde cada gesto público pode ter consequências significativas. A manifestação de domingo foi mais um capítulo dessa novela que parece longe de terminar.