O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a se posicionar de forma contundente contra a Lei da Ficha Limpa, defendendo sua revogação total. Em uma transmissão ao vivo, Bolsonaro argumentou que a legislação tem sido utilizada como um instrumento de perseguição política contra a direita no Brasil. A declaração ocorre em um momento em que tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei complementar que busca reduzir o tempo de inelegibilidade imposto pela norma.
A Lei da Ficha Limpa foi sancionada em 2010 com o objetivo de impedir a candidatura de políticos condenados por corrupção, abuso de poder e outros crimes eleitorais. Atualmente, a legislação determina um período de inelegibilidade de oito anos para aqueles que forem condenados. Bolsonaro, que já foi considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral em dois processos distintos, poderia ser diretamente beneficiado caso a lei fosse alterada ou revogada.
O deputado Bibo Nunes, aliado do ex-presidente, é o autor da proposta que busca reduzir o tempo de inelegibilidade para dois anos e alterar o critério de contagem do prazo, fazendo com que o período tenha início na data da eleição e não da condenação. Caso o projeto seja aprovado, Bolsonaro teria condições legais de disputar as eleições presidenciais de 2026. No entanto, a proposta ainda precisa avançar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e obter apoio suficiente entre os parlamentares para seguir adiante.
Em sua declaração, Bolsonaro afirmou que a Lei da Ficha Limpa tem sido usada seletivamente para prejudicar políticos de direita, enquanto lideranças de esquerda, segundo ele, recebem um tratamento diferenciado. O ex-presidente mencionou o impeachment de Dilma Rousseff e a anulação das condenações do ex-presidente Lula como exemplos de como o sistema político e jurídico teria favorecido seus adversários.
O ex-presidente também criticou aqueles que sugerem apenas ajustes na lei e reforçou sua posição de que o ideal seria a revogação completa da norma. Para Bolsonaro, a decisão de eleger ou não um candidato deve caber exclusivamente ao eleitor, sem a interferência de dispositivos legais que restrinjam a participação política.
O debate sobre a Lei da Ficha Limpa é um tema sensível e polarizador no Brasil. De um lado, há aqueles que defendem a manutenção da legislação como uma forma essencial de garantir maior integridade no processo eleitoral e impedir que políticos condenados retornem rapidamente à vida pública. De outro, há quem argumente que a lei pode ser usada de maneira parcial e que impede a vontade popular ao restringir candidaturas.
Aliados de Bolsonaro têm intensificado a pressão para que o Congresso avance com mudanças na legislação. A discussão ganha ainda mais relevância diante do cenário eleitoral de 2026, no qual Bolsonaro busca reverter sua inelegibilidade e se posicionar como principal nome da oposição ao governo atual.
Nos bastidores, o Palácio do Planalto e lideranças do Congresso acompanham com atenção os desdobramentos desse debate. Setores governistas se opõem à revogação da Lei da Ficha Limpa e argumentam que eventuais mudanças podem representar um retrocesso no combate à corrupção. Já parlamentares aliados de Bolsonaro trabalham para viabilizar a proposta, apostando no apoio popular para pressionar o Legislativo a aprovar as alterações.
A proposta de flexibilização da Ficha Limpa ainda precisa superar diversos obstáculos antes de se tornar realidade. Além de passar pela Comissão de Constituição e Justiça, a matéria precisará ser apreciada pelo plenário da Câmara e, posteriormente, pelo Senado. Caso aprovada em ambas as casas legislativas, seguirá para sanção presidencial.
O posicionamento de Bolsonaro reforça sua estratégia de se manter ativo no cenário político, mesmo fora do cargo. Desde que deixou a Presidência, o ex-mandatário tem adotado um discurso crítico às instituições e buscado mobilizar sua base de apoiadores. O ex-presidente também tem investido na narrativa de que há uma perseguição contra ele e seus aliados, o que tem sido um dos pilares de sua estratégia política.
Especialistas em direito eleitoral divergem sobre a viabilidade de mudanças na Ficha Limpa. Alguns apontam que qualquer alteração pode abrir precedentes perigosos e enfraquecer mecanismos de combate à corrupção. Outros defendem que a legislação, da forma como está, pode ser aplicada de maneira injusta e precisa ser reformada para garantir maior equilíbrio no processo democrático.
Independentemente do desfecho desse debate, o tema promete continuar gerando discussões acaloradas nos próximos meses. A possibilidade de Bolsonaro recuperar seus direitos políticos antes das eleições de 2026 representa um dos principais desafios para o cenário eleitoral e pode impactar diretamente as estratégias de partidos e candidatos.
Enquanto isso, a base bolsonarista segue mobilizada, pressionando parlamentares e buscando apoio para mudanças na legislação. Por outro lado, setores contrários à revogação da Ficha Limpa se organizam para barrar qualquer tentativa de alteração, sob o argumento de que a norma é essencial para garantir mais transparência e ética na política brasileira.
O desenrolar dessa disputa dependerá das articulações políticas nos bastidores do Congresso e da capacidade de Bolsonaro e seus aliados de conquistarem apoio suficiente para modificar a legislação. Até lá, a Lei da Ficha Limpa permanece como um dos principais obstáculos para a participação do ex-presidente nas próximas eleições.