Ontem, o governo anunciou um aumento da alíquota do IOF para 3,5% para diversas operações financeiras, incluindo empréstimos, seguro, câmbio e cartões de crédito. Do mercado financeiro aos viajantes, esse aumento de imposto (mais um!) pegou muita gente de surpresa.
A mudança afeta diretamente a nós, viajantes internacionais, pois as contas digitais internacionais, como Wise, Revolut, Nomad e outras eram, até então, a forma mais barata de gastar e levar dinheiro ao exterior. Em poucas horas (entre 23h50 de ontem e 2h de hoje) o dólar nessas contas foi de R$ 5,80 para R$ 5,94 devido ao imposto! Mas o aumento afeta também cartões de crédito, transferências e compra de papel-moeda.
Neste cenário, entender o que mudou é fundamental. E mais do que simplesmente olhar para o IOF, é hora de comparar o custo total envolvido em cada forma de pagamento e os benefícios que elas trazem. Por isso, vamos tentar aqui clarear o cenário para você viajante.
O que é o IOF?
O Imposto sobre Operações Financeiras, IOF, é um imposto cobrado em diversas transações que envolvem câmbio, crédito e seguros. Quando falamos de viagens internacionais, ele aparece sempre que você compra moeda estrangeira, faz uma transferência internacional ou usa o cartão de crédito fora do Brasil, ou online em sites estrangeiros. É aquela “taxinha” surpresa da fatura, rs.
O que mudou com o novo IOF
Basicamente, até ontem, havia uma diferença importante entre as formas de pagamento: contas globais eram tributadas com 1,1% de IOF, o que fazia delas a forma mais barata de comprar dólar, euro e outras moedas ou gastar no exterior. Já os cartões de crédito, quando usados no exterior ou em compras internacionais online, eram taxados com 3,38% de IOF (com previsão de que o imposto fosse zerado até 2029), o que tornava seu uso fora do país bem mais caro.
Havia ainda a transferência para outra pessoa, usada por alguns como “jeitinho” para pagar menos IOF. E aí, a paulada foi ainda maior: o IOF desta modalidade saiu de 0,38% para os mesmos 3,5%. Quase 10 vezes mais!
Com a nova regra, as diferenças não existem mais. A nova regra, válida a partir de hoje (23/05/25), unifica a alíquota em 3,5% para quase todas as operações de câmbio voltadas ao consumo internacional. Ou seja:
OPERAÇÃO | COMO ERA | COMO FICOU |
Compra de moeda em contas globais | 1,1% | 3,5% |
Compra de moeda em casas de câmbio | 1,1% | 3,5% |
Compras com cartões de crédito | 3,38% | 3,5% |
Transferências internacionais para outra pessoa | 0,38% | 3,5% |
À primeira vista, isso parece uma simplificação. Mas, na prática, dependendo da instituição financeira que você usa, os custos continuam bem diferentes. E falaremos disso abaixo.
Contas globais x cartões de crédito: IOF igual, spread diferente
Sim, com a nova alíquota de 3,5%, tanto as contas digitais internacionais quanto os cartões de crédito passam a ter o mesmo imposto. Mas isso não significa que agora está tudo igual, na prática. O que vai contar ainda mais agora é o spread cambial (mais uma palavra difícil…). Mas o spread é basicamente a margem de lucro que cada instituição financeira aplica sobre o dólar para convertê-lo em reais e “vender” ao cliente.
Nas contas globais, esse spread já costumava ser inferior, variando entre 0,6% e 2%, dependendo da plataforma. Já nos cartões de crédito internacionais, o spread pode chegar a 7% ou até mais, especialmente nos bancões tradicionais.
Ranking de spread no Brasil
Confira abaixo ranking de contas globais e cartões de crédito, ordenados do menor para o maior spread cambial. As instituições com custo total mais vantajoso aparecem primeiro, considerando o IOF, spread e CET (Custo Efetivo Total). (*) Observações importantes estão no final da tabela para esclarecer critérios e variações específicas.
BANCO | TIPO | IOF | SPREAD | CET |
Banese | Cartão de crédito | 3,50% | 0,00% | 3,50% |
Cresol | Cartão de crédito | 3,50% | 0,00% | 3,50% |
Sicoob | Cartão de crédito | 3,50% | 0,00% | 3,50% |
Sisprime | Cartão de crédito | 3,50% | 0,00% | 3,50% |
Unicred | Cartão de crédito | 3,50% | 0,00% | 3,50% |
Revolut | Conta global | 3,50% | 0,60% | 4,10% |
Wise | Conta global | 3,50% | 0,80% | 4,30% |
Remessa Online | Conta global | 3,50% | 0,80% | 4,30% |
Santander Global | Conta global | 3,50% | 0,80% | 4,30% |
Nubank Global (Wise) | Conta global | 3,50% | 0,80% | 4,30% |
C6 Global Account (*) | Conta global | 3,50% | 0,90% | 4,40% |
Inter Global | Conta global | 3,50% | 0,99% | 4,49% |
Sicredi | Cartão de crédito | 3,50% | 1,00% | 4,50% |
Nomad Nível 5 | Conta global | 3,50% | 1,00% | 4,50% |
Nomad Nível 4 | Conta global | 3,50% | 1,40% | 4,90% |
Porto Bank (*) | Cartão de crédito | 0,00% | 4,99% | 4,99% |
AstroPay | Conta global | 3,50% | 1,50% | 5,00% |
Nomad Nível 3 | Conta global | 3,50% | 1,70% | 5,20% |
Nomad Nível 2 | Conta global | 3,50% | 1,90% | 5,40% |
Nomad Nível 1 | Conta global | 3,50% | 2,00% | 5,50% |
BS2 | Conta global | 3,50% | 2,00% | 5,50% |
XP Global | Conta global | 3,50% | 2,25% | 5,75% |
Banrisul | Cartão de crédito | 3,50% | 3,00% | 6,50% |
BTG Pactual | Cartão de crédito | 1,10% | 6,00% | 7,10% |
Caixa | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Banco do Brasil | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Banestes | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
BRB | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
BV | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Inter | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Neon | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Nubank | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Nomad (função crédito) | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Genial Investimentos | Cartão de crédito | 3,50% | 4,00% | 7,50% |
Banco do Nordeste | Cartão de crédito | 3,50% | 5,00% | 8,50% |
Next | Cartão de crédito | 3,50% | 5,00% | 8,50% |
PicPay | Cartão de crédito | 3,50% | 5,00% | 8,50% |
Uniprime | Cartão de crédito | 3,50% | 5,00% | 8,50% |
C6 Bank | Cartão de crédito | 3,50% | 5,25% | 8,75% |
Bradesco | Cartão de crédito | 3,50% | 5,30% | 8,80% |
Itaú / Credicard | Cartão de crédito | 3,50% | 5,50% | 9,00% |
Santander | Cartão de crédito | 3,50% | 6,00% | 9,50% |
Pan | Cartão de crédito | 3,50% | 6,00% | 9,50% |
Safra | Cartão de crédito | 3,50% | 7,00% | 10,50% |
(*) Este ranking foi atualizado com informações de 23/05, no entanto, com as novas medidas do governo, os bancos podem revisar suas taxas. Vamos atualizar a tabela se for o caso. O Porto Bank e BTG Pactual cobram IOF, mas contam com desconto promocionais do valor referente ao imposto por isso estão zerados na tabela. A conta global do C6 Bank tem desconto conforme o volume de transação. Vale conferir notícias de cartões de crédito no do nosso site Melhores Cartões
Contas globais ou cartões de crédito?
Mesmo com o IOF igualado em 3,5% para todas as operações de câmbio de consumo, o custo total para o viajante ainda pode continuar mais vantajoso nas contas globais. Isso porque elas historicamente mantêm spreads mais baixos, maior controle sobre a conversão e benefícios adicionais que vão muito além do câmbio.
Contas como a Revolut, Nomad e Wise continuam oferecendo:
- Conversão instantânea e transparente de reais para dólar ou euro;
- Cartões de débito físicos e virtuais para uso internacional;
- Melhor previsibilidade de gastos (você só usa o saldo já convertido);
- Custos finais menores em relação à maioria dos cartões de crédito tradicionais.
Além disso, cada uma tem vantagens próprias que podem pesar positivamente na escolha. A Nomad, por exemplo, é especializada em dólar, tem o programa Nomad Pass que tem chip internacional grátis, o lounge próprio no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, além de acesso a investimentos nos EUA direto pelo app. Já a Revolut conta com o menor no spread entre as contas globais, saldo e compra de mais de moedas de mais de 30 países diferentes e acesso a criptomoedas e investimentos.
Mas vale lembrar que alguns cartões de crédito também ganharam competitividade, especialmente os que oferecem spread reduzido e pontuação em programas de pontos e milhas. É o caso dos cartões de cooperativas como a Unicred, Sicoob e Sisprime, além dos cartões com cashback de IOF, como o Porto Seguro Bank.
A questão é que nem todo cartão de crédito pontua – e quando pontua, pode compensar pouco. Cartões dos chamados “bancões” costumam ter spreads altos e baixa pontuação, o que acaba anulando a vantagem. Não adianta acumular 1, 1,5 ou até 2 pontos por dólar se o spread estiver em 5%, 6% ou 7%.
Qual a melhor forma de levar dinheiro na viagem em 2025? E uma dica: investimentos!
Com o novo IOF de 3,5% nivelando todas as opções, a dúvida sobre qual é a melhor forma de levar dinheiro na vigem ganhou ainda mais peso. A resposta, claro, vai depender do seu perfil, mas algumas verdades seguem firmes: controle, planejamento, fugir de pegadinhas e o custo total final ainda fazem muita diferença. Mas, resumindo, cada forma de pagamento:
Conta digital internacional
Na maioria dos casos, as contas digitais como Revolut, Nomad, Wise e Astropay continuam sendo a opção mais vantajosa para quem gosta de planejar e se controlar. Com ela, você pode ir comprando moeda aos poucos e montar um valor médio do câmbio, o que ajuda a amenizar oscilações futuras. Você tem um cartão de débito internacional (virtual ou físico) para compras e saques.
Cartão de crédito
Com o novo IOF, os cartões de crédito em geral ganharam competitividade e passaram a ser uma opção a ser considerada. Eles oferecem conveniência, já que se pode usar o cartão de sempre durante a viagem, e ainda permitem aproveitar os benefícios como acumular milhas ou receber cashback. Mas o custo final pode ser mais elevado, principalmente em cartões de bancos tradicionais com spreads altos e baixa pontuação. Você fica vulnerável à variação cambial durante a viagem e maior possibilidade de descontrole dos gastos, que só serão pagos na fatura. Aqui, a dica é avaliar o custo-benefício real. Milhas só compensam se o spread for justo.
Casas de câmbio / Papel-moeda
Serve apenas para emergências. Fizemos uma simulação no site Melhor Câmbio agora pela manhã e o resultado: o dólar ultrapassou a casa dos R$ 6,06 por unidade em papel, bem acima da cotação oficial ou do valor efetivo total de contas globais que estava na faixa de R$ 5,92. E outra: na maioria dos destinos mais visitados na Europa e nos EUA, papel-moeda está deixando de ser usado. Cartão pode ser preferível por conveniência e segurança.
Governo volta atrás e investimentos e mantém IOF reduzido
E uma observação importante: após anunciar que o novo IOF de 3,5% valeria inclusive para transferências destinadas a investimentos no exterior, a medida foi revista e o imposto, nesses casos, foi mantido mais baixo. Ou seja, investir no exterior continua com tributação mais leve.
Para quem costuma se planejar com antecedência para viajar, isso pode abrir uma brecha interessante: é possível transferir recursos para uma conta de investimentos global durante os períodos de dólar mais baixo, aproveitando o IOF reduzido, e futuramente, já perto da viagem, realocar os valores para a conta-corrente internacional e usar normalmente com cartão de débito internacional.
Muitos usuários da Nomad e da Revolut, por exemplo, já adotavam essa estratégia, já que a contas permitem fazer investimentos fora do Brasil. É uma forma legal de travar o câmbio com menor custo e manter parte da reserva rendendo até o embarque, pagando menos IOF. Afinal, quando a lei não define prazo mínimo para o investimento, o bom senso (e o bom planejamento) pode fazer toda a diferença!
Resumindo: não é o fim do mundo, mas vai ficar mais caro
Sim, viajar vai ficar um pouco mais caro (e ficamos na torcida para que o dólar caia e amenize isso). As contas globais perderam um pouco do brilho, e os cartões de crédito tradicionais continuam pesando no bolso. Mas isso não significa que viajar se tornou impossível ou que não dá mais para economizar.
Agora, mais do que nunca, planejar, entender os custos reais de cada opção e fazer escolhas conscientes é o que separa quem viaja com inteligência de quem estoura o orçamento. Algumas dicas seguem:
- Economize nas passagens aéreas com nossos alertas de menor preço;
- Aproveite descontos como cupons em hotéis e parcelamento sem juros;
- Se usa milhas, veja alertas de boas emissões;
- Economize do seguro viagem e evite perrengues;
- Nas contas digitais, aproveite bônus e cashback ainda válidos na adesão
- Fique atento ao spread cobrado pelo seu banco ou conta digital
Viajar vai exigir mais atenção, mais comparação e mais pesquisa. Mas dá. E claro, a gente está aqui no Melhores Destinos para te ajudar. Porque viajar mais pagando menos continua sendo possível e é isso que a gente faz todos os dias.
Compartilhe sua opinião nos comentários: o que você achou do aumento do IOF? Pretende abandonar as contas digitais e focar no cartão de crédito?