Brasília – O ministro das Cidades, Guilherme Boulos (PSOL), enfrenta um cenário de crescente isolamento dentro do governo Lula, com colegas de ministério e aliados do Planalto evitando associar-se a suas iniciativas por temerem um fracasso político. Segundo fontes próximas ao Palácio do Planalto, projetos-chave de Boulos, como o programa de regularização fundiária e urbanização de favelas, estão sendo deixados de lado por outros membros do governo, que não querem “queimar capital político” com medidas consideradas de difícil aprovação ou execução.
Boulos sozinho na defesa de suas pautas
Relatos de reuniões ministeriais indicam que Boulos tem insistido na priorização de políticas de moradia popular, mas sem conseguir o engajamento de pastas como Fazenda, Planejamento e Casa Civil, essenciais para viabilizar orçamento e articulação política. Um ministro, que preferiu não se identificar, afirmou: “Todo mundo sabe que algumas dessas propostas não vão sair do papel neste momento. Não faz sentido gastar energia com isso.”
Além disso, parlamentares da base governista já sinalizaram resistência a projetos considerados “radicais”, como a desapropriação de imóveis ociosos para fins sociais, uma das bandeiras históricas de Boulos. Líderes do PT e até do PSOL têm dúvidas sobre a viabilidade política dessas medidas em um Congresso dominado por centrão e conservadores.
Crise de imagem e desgaste no governo
Boulos, que chegou ao ministério como uma das principais apostas do campo progressista, agora enfrenta críticas até de setores tradicionalmente alinhados ao PT. Alguns avaliaram que sua postura “idealista” tem dificultado negociações práticas, enquanto outros defendem que o governo Lula deveria focar em agendas menos polêmicas diante da pressão econômica e da baixa popularidade.
O próprio Lula tem evitado endossar publicamente as propostas mais ousadas de Boulos, preferindo destacar programas como Minha Casa, Minha Vida, que têm maior apelo eleitoral. Nos bastidores, assessores presidenciais admitem que o ministro das Cidades pode ser “sacrificado” politicamente caso suas iniciativas não avancem.
Reação da equipe de Boulos
A assessoria do ministério afirmou que Boulos “continua trabalhando em suas prioridades” e que “o diálogo com outras pastas está em curso”. No entanto, não há sinais de que seus projetos receberão o apoio necessário para saírem do papel nos próximos meses.
Enquanto isso, o desgaste político aumenta, e analistas avaliam que, sem uma vitória concreta, Boulos pode se tornar um “fiasco simbólico” do governo Lula, reforçando a percepção de que a ala mais radical do progressismo não tem espaço no atual equilíbrio de forças.
O próximo passo será observar se o Planalto decidirá resgatar as pautas de Boulos ou se o deixará à própria sorte, consolidando seu isolamento no governo.