Processo é referente ao “caso VaideBet”, que apura fraude em contrato de patrocínio com o time.
Nesta terça-feira (22), a Justiça de São Paulo aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians, e outros seis acusados no processo conhecido como “Caso VaideBet”. Saiba mais em TVT News.
A decisão, assinada pela juíza Márcia Mayumi Okoda Oshiro, da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores, transforma os envolvidos em réus por crimes como associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto qualificado. O esquema teria desviado cerca de R$ 1,4 milhão dos cofres do clube por meio de empresas de fachada e movimentações financeiras suspeitas ligadas ao contrato de patrocínio com a casa de apostas.
Além de Melo, também passaram a responder judicialmente os ex-diretores do clube Marcelo Mariano (o Marcelinho) e Sérgio Moura, o empresário Alex Cassundé, e os empresários Victor Henrique de Shimada e Ulisses de Souza Jorge, ligados a empresas de fachada que teriam recebido parte dos valores desviados.
A acusação surgiu a partir de uma investigação iniciada no ano passado pela Polícia Civil de São Paulo, em parceria com o Ministério Público, com o objetivo de apurar possíveis irregularidades no contrato de patrocínio firmado entre o Corinthians e a casa de apostas.
Os promotores pedem que o clube seja indenizado em R$ 40 milhões e solicitaram o bloqueio de bens dos denunciados para garantir o ressarcimento dos prejuízos causados à instituição.
Entenda o caso “VaideBet”
Em janeiro de 2024, nos primeiros dias da gestão de Augusto Melo, o Corinthians anunciou um contrato de patrocínio máster com a casa de apostas VaideBet, avaliado em R$ 370 milhões por três anos. O acordo envolvia a empresa Rede Social Media Design, de Alex Cassundé, como intermediadora. Cassundé havia atuado na campanha eleitoral de Melo e sua empresa teria direito a R$ 25 milhões pela intermediação. Deste valor, foram pagos R$ 1,4 milhão em duas parcelas de R$ 700 mil, sem o aval do então diretor financeiro Rozallah Santoro, gerando controvérsia interna no clube.
Posteriormente, descobriu-se que a Rede Social Media Design repassou os valores à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda., apontada pela Polícia como empresa de fachada. Como revelou o jornalista Juca Kfouri, a Neoway está registrada em nome de Edna Oliveira dos Santos, moradora de uma área periférica de Peruíbe, que afirma desconhecer qualquer vínculo com a empresa ou o caso.
Diante das suspeitas, a VaideBet acionou uma cláusula anticorrupção e rescindiu o contrato em junho de 2024, alegando prejuízo à sua reputação. A investigação revelou que os valores pagos à Neoway foram transferidos por meio de uma rede de empresas até chegar à UJ Football Talent Intermediação Ltda., pertencente a Ulisses Jorge.
A agência recebeu R$ 1.074.150,00 e, segundo a Polícia, esse montante teria sido usado para cobrir despesas da campanha eleitoral de Melo. A UJ Football foi citada em delação premiada como suposto braço do PCC no futebol, feita por Antônio Vinícius Lopes Grizbach, assassinado em novembro de 2024 no aeroporto de Guarulhos.
Outro nome envolvido é Victor Henrique de Oliveira Shimada, sócio da Victory Trading Intermediação, empresa que também teria sido usada para dificultar o rastreamento dos valores desviados. A Victory Trading foi uma das últimas empresas a transferir recursos à UJ Football, e seu sócio chegou a ser preso pela Polícia Federal em janeiro de 2025, acusado de lavagem de dinheiro e furto qualificado.
Impeachment
Augusto Melo foi afastado provisoriamente da presidência do Corinthians em 26 de maio, após aprovação de seu impeachment pelo Conselho Deliberativo, em reunião realizada no Parque São Jorge. A principal motivação para a destituição foi o envolvimento do dirigente no “Caso VaideBet”.
Desde então, a presidência do clube está sob comando interino de Osmar Stabile, primeiro vice-presidente. A definição sobre o futuro de Augusto Melo ocorrerá em 9 de agosto, quando os associados do Corinthians participarão de uma assembleia geral. Nessa ocasião, será decidido se ele será reconduzido ao cargo ou afastado definitivamente da presidência do clube.
O que diz Augusto Melo?
Em nota, a defesa de Augusto Melo afirma que “todas as acusações contra ele são falsas”. Leia o comunicado na íntegra abaixo:
“O presidente do Corinthians, Augusto Melo, afirma que todas as acusações contra ele são falsas. Ele é vítima de um processo ilegal e repleto de nulidades e abusos, como o acesso a dados do Coaf sem autorização judicial e a participação da Policia Civil e do Ministério Público de São Paulo em um caso de competência da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, uma vez que envolve um contrato internacional.
O recebimento da denúncia pela Justiça é uma etapa formal do processo, que não altera em nada o curso da ação. A defesa vai impetrar os habeas corpus necessários com o objetivo de fulminar esse processo kafkiano e ilegal.
O presidente Augusto Melo nada deve e nada teme, por isso já solicitou o fim do sigilo que impede o acesso da torcida corinthiana à íntegra dos documentos da ação. A defesa também solicitou que as autoridades competentes, a PF e o MPF, cuidem do caso. Está em curso ainda uma investigação defensiva, conforme regulamentado pela OAB, que comprovará a inocência do presidente legitimamente eleito do Corinthians.
Augusto Melo segue confiante de que a verdade prevalecerá e reitera seu compromisso com a retomada da organização financeira do clube, que sofreu grande retrocesso desde que ele foi retirado do cargo por seus adversários políticos, que hoje conduzem uma gestão conhecida pelo não pagamento de obrigações e depreciação do clube dentro e fora de campo.“
Dr. Ricardo Jorge
Defesa de Augusto Melo
A TVT News não conseguiu contato com os outros ex-dirigentes do Corinthians.
