Levantamento da Comissão Pastoral da Terra registrou diminuição dos assassinatos, mas continuidade dos casos de violência na terra
O novo relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), lançado nesta quarta-feira (23), revelou que, em 2024, o Brasil registrou o maior número de conflitos por terra da última década. Outro destaque da publicação é o aumento da contaminação por agrotóxicos nos casos de violência contra comunidades tradicionais e camponeses.
Em 2024, houve aumento dos conflitos pela água, mas os dados gerais do relatório são menos que os de 2023, porque ocorreu redução dos casos de trabalho escravo e nas manifestações de luta. Saiba mais em TVT News.
Conflitos por terra e água
Ao todo, o Brasil registrou 2.185 conflitos no campo em 2024, o 2º maior número da série histórica da CPT, frente aos 2.250 registrados no ano anterior. Dos 2.185, 1.768 conflitos são pela terra, quase 80% do total. A maior parte dos registros diz respeito a violência, foram 1.680 em 2024. Estados do Norte e Nordeste lideram com o maior número de casos de violência: Maranhão (363), Pará (234), Bahia (135) e Rondônia (119).
Em 2024, houve aumento dos conflitos pela água: 266, o 3º maior número dos últimos cinco anos. Pará (65), Maranhão (45), Minas Gerais (30) e Bahia (22) registraram a maior parte dos casos. A maior parte dos conflitos é por “uso e preservação”, com 70%. Depois “barragens” (23%) e “apropriação da água” (7%)”. Ocorreu aumento na contaminação da água por agrotóxicos, de 26 para 40 casos.
Violência no campo
O ano de 2024 registrou redução no número de vítimas de violência contra a pessoa. Foram 1.528 casos (contra 1.720, em 2023) e 1.163 vítimas (contra 1.480, em 2023). O número de assasinatos também diminuiu. Em 2023, 31 pessoas foram mortas, e no ano seguinte, 13 vidas foram tiradas. Porém, o levantamento revela que Pará, Santa Catarina e Tocantins, que não haviam registrado casos de assasinato antes, aparecem nos novos dados.
A diminuição nos assassinatos, porém, não significa diminuição da violência na terra. As ameaças de morte cresceram (de 219 para 272) e atingiram o maior número em dez anos. Também ocorreu crescimento nos registros de intimidação (de 192 para 221) e tentativas de assasinato (de 72 para 103), das quais a maior parte das vítimas (79%) são indígenas.
Guerra química
O relatório destaca que houve um salto de 762% na contaminação por agrotóxicos nos registros de violência. De 32, em 2023, as ocorrências saltaram para 276, em 2024. O Maranhão concentra 228 casos, mais de 80% do total. Indígenas, quilombolas, famílias assentadas da reforma agrária e camponeses são afetados pela pulverização aérea dos químicos.
Ainda que o Maranhão concentre os casos, a maior parte das famílias afetadas está no Mato Grosso do Sul. Foram 7.538 famílias em 17 conflitos.