A terceira segunda-feira de janeiro é frequentemente chamada de Blue Monday (segunda-feira triste, em tradução livre). O dia, que ganhou fama como o dia mais deprimente do ano, também marca a posse do político de extrema direita Donal Trump como presidente dos Estados Unidos.
O conceito foi introduzido em 2005 pelo psicólogo galês Cliff Arnall, que na época desenvolveu uma fórmula para identificar essa data. Entre os fatores considerados estavam o clima frio e cinzento do hemisfério norte, dívidas acumuladas após as festas de fim de ano, o fracasso em cumprir resoluções de Ano Novo e a pressão do retorno à rotina de trabalho. Apoiadores de Trump, por exemplo, enfrentaram um frio de -11ºC para ouvir seu ídolo.
“Diga-me agora, como devo me sentir?/Agora eu estou aqui esperando/Eu pensei que eu te disse para me deixar/Enquanto eu caminhava até a praia/Diga-me, como você se sente” – Trecho da música Blue Moonday, da banda inglesa New Order
O dia triste
Arnall, que foi acadêmico da Universidade de Cardiff, justificou sua fórmula com uma combinação de elementos psicológicos e sociais que afetam muitas pessoas no início do ano. Contudo, ele mesmo se distanciou da ideia posteriormente, reconhecendo em 2018, durante uma entrevista ao jornal The Independent, que a Blue Monday ganhou conotações negativas e foi usada amplamente para fins comerciais, algo que nunca foi sua intenção original.
Apesar da popularidade do termo, especialistas alertam que não há embasamento científico para validar a Blue Monday. Organizações como a Mind UK, uma instituição de caridade dedicada à saúde mental no Reino Unido, criticam o conceito por trivializar condições graves como a depressão. De acordo com a entidade, é preocupante reduzir experiências complexas de sofrimento emocional a um dia específico do ano, principalmente considerando que esses desafios são vividos por muitos de forma constante e em diferentes épocas.
Blue Monday
A despeito das críticas, a Blue Monday tornou-se um fenômeno cultural, principalmente em países do hemisfério norte, onde janeiro é marcado por dias curtos, clima rigoroso e uma atmosfera introspectiva. Empresas de turismo costumam usar a data para promover pacotes para destinos mais quentes, enquanto corporações oferecem treinamentos e atividades voltados ao bem-estar de seus funcionários, tentando combater a tristeza sazonal associada ao inverno.
A data também movimenta as redes sociais, onde internautas compartilham experiências e dicas para enfrentar a suposta melancolia. Neste ano, a Blue Monday esteve entre os principais tópicos no X (antigo Twitter), alimentando debates sobre saúde mental e suas complexidades.
No Brasil
Enquanto no hemisfério norte a Blue Monday encontra ressonância no clima frio e no cenário pós-festas, no Brasil, ela parece deslocada. Em pleno verão, com altas temperaturas e o Carnaval se aproximando, a atmosfera é, em geral, mais vibrante e festiva. Ainda assim, as questões financeiras e emocionais que inspiraram o conceito podem ser sentidas por brasileiros, mesmo em um contexto tão diferente.