O início do ano legislativo promete ser turbulento com a iminência de um novo pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Liderado pelo deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) e apoiado por cerca de 60 parlamentares, o chamado “superpedido” foca em alegações de irregularidades na execução do programa Pé-de-Meia, uma iniciativa do Ministério da Educação voltada ao auxílio financeiro de estudantes do ensino médio. O cerne da denúncia está no desembolso de R$ 3 bilhões pelo governo federal sem a devida autorização do Congresso Nacional, uma suposta violação das normas de finanças públicas.
De acordo com o pedido de impeachment que será apresentado assim que o recesso parlamentar terminar, a legislação que criou o Pé-de-Meia exige que os valores destinados ao programa sejam submetidos anualmente à aprovação do Congresso. Apesar de o governo federal ter vetado essa exigência anteriormente, o veto foi derrubado pelo Legislativo. No entanto, o Ministério da Educação teria ignorado a decisão e continuado com os pagamentos fora do orçamento aprovado. Os parlamentares alegam que essa prática caracteriza uma grave afronta à legalidade fiscal, uma questão que pode ter consequências políticas profundas para a gestão do presidente Lula.
O debate ganhou ainda mais força após uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) na última semana. O ministro Augusto Nardes, relator do caso, acolheu uma recomendação técnica e determinou o bloqueio parcial de R$ 6 bilhões do programa Pé-de-Meia. Segundo o TCU, os recursos estavam sendo utilizados fora da Lei Orçamentária Anual, o que viola o princípio da universalidade orçamentária. A equipe técnica do tribunal identificou que os pagamentos eram provenientes do Fipem, um fundo que financia o programa, mas que não constava no orçamento federal. Essa estruturação, apontam os auditores, configura uma manobra irregular, contrariando as exigências legais para despesas permanentes.
No relatório, o TCU destacou que os recursos utilizados pelo programa incluíam verbas oriundas de resgates de cotas de outros fundos, como o FGO, FGEDUC e o Fundo Social, os quais, por lei, deveriam ser contabilizados no orçamento público. A decisão do tribunal deu força aos parlamentares que já vinham questionando a legalidade das ações do governo no âmbito do Pé-de-Meia e abriu caminho para um embate que pode agitar o Congresso Nacional nas próximas semanas.
O deputado Rodolfo Nogueira afirmou que o pedido de impeachment é uma resposta necessária às supostas ilegalidades cometidas pelo governo. Para ele, o desrespeito às normas fiscais é um ataque à democracia e à transparência que precisa ser investigado de forma rigorosa. “O governo federal desembolsou R$ 3 bilhões neste ano para estudantes do ensino médio sem a devida autorização do Congresso Nacional, em desacordo com as normas de finanças públicas. Isso é inadmissível em qualquer governo que se diz democrático”, declarou o parlamentar.
O clima no Palácio do Planalto é de preocupação, segundo fontes próximas ao governo. A oposição vê no caso uma oportunidade de ampliar a pressão sobre o presidente, que, desde o início do mandato, enfrenta críticas severas por parte de adversários políticos. Para os críticos, o programa Pé-de-Meia seria apenas a ponta do iceberg de uma gestão marcada por práticas questionáveis e pela falta de diálogo com o Legislativo.
O PT, por sua vez, tenta minimizar os impactos do pedido de impeachment e desqualificar as acusações. Lideranças do partido classificaram a movimentação da oposição como uma tentativa de desestabilizar o governo e acusaram os parlamentares de utilizarem o caso do Pé-de-Meia como pretexto para alimentar uma agenda golpista. Segundo interlocutores do governo, a estratégia do Planalto será reforçar o apoio de sua base no Congresso e esclarecer que os pagamentos realizados pelo programa são legítimos e necessários para garantir o direito à educação de jovens em situação de vulnerabilidade.
No entanto, as dificuldades enfrentadas por Lula vão além da questão do Pé-de-Meia. A oposição tem aproveitado cada brecha para questionar a legitimidade do governo e aumentar a pressão sobre o presidente. Alguns críticos relembram as polêmicas que cercaram a eleição de 2022 e argumentam que o governo não tem conseguido cumprir suas promessas de campanha. “O PT está desesperado. Lula não engana mais ninguém”, disse um parlamentar da oposição.
Apesar da euforia inicial entre os deputados que lideram o pedido de impeachment, especialistas acreditam que o processo enfrentará desafios significativos para avançar. O rito de impeachment no Brasil exige ampla aprovação na Câmara dos Deputados, o que dependerá do apoio de aliados estratégicos. Mesmo assim, o movimento já tem o potencial de desgastar politicamente o governo e colocar em evidência as fragilidades da gestão petista.
Com o fim do recesso parlamentar se aproximando, os olhos do país se voltam para Brasília, onde o Congresso deve se tornar o palco de um dos debates políticos mais acalorados dos últimos anos. Seja qual for o desfecho, o pedido de impeachment contra Lula promete intensificar as divisões no cenário político brasileiro e colocar à prova a capacidade de articulação do presidente e de sua base de apoio.