A discussão sobre a renda básica universal na Alemanha remonta à década de 1970. Diferente dos sistemas tradicionais de seguro-desemprego, essa proposta prevê um subsídio mensal pago a todos os cidadãos, sem condições ou restrições, permitindo que as pessoas continuem trabalhando e ganhando mais se desejarem. Um dos principais questionamentos é se essa renda incondicional afetaria a disposição das pessoas para trabalhar.
Para explorar essa questão, a Alemanha conduziu um estudo de longo prazo chamado Projeto-Piloto de Renda Básica. Este estudo, um dos mais abrangentes do mundo, buscou entender empiricamente os efeitos da renda básica incondicional na vida dos indivíduos. Os resultados foram divulgados juntamente com uma série de documentários que acompanham alguns dos participantes, intitulada “Der grosse Traum: Geld für alle”.
Detalhes sobre a condução da pesquisa
O estudo foi iniciado pela organização sem fins lucrativos alemã Mein Grundeinkommen, em parceria com grupos de pesquisa como o Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW Berlin). Mais de 2 milhões de pessoas se inscreveram, mas apenas 122 foram selecionadas aleatoriamente para receber 1.200 euros mensais durante três anos, a partir de junho de 2021. Um grupo de controle de 1.580 pessoas foi utilizado para comparar os efeitos.
Os participantes tinham entre 21 e 40 anos, moravam sozinhos e possuíam uma renda líquida mensal entre 1.100 e 2.600 euros. Essa seleção visava criar conjuntos de dados comparáveis para analisar o impacto da renda de forma precisa.
O que o estudo alemão sobre renda básica revelou?
Uma das descobertas mais significativas foi que os beneficiários continuaram trabalhando em média 40 horas por semana, desmistificando a ideia de que a renda básica tornaria as pessoas preguiçosas. Além disso, um número maior de participantes do grupo de renda básica mudou de emprego em comparação com o grupo de controle, sugerindo que a segurança financeira proporcionada pela renda básica encorajou essas mudanças.
O estudo também revelou que mais pessoas do grupo de renda básica começaram a estudar, muitas vezes conciliando os estudos com o trabalho. Após o período de recebimento da renda, os participantes relataram um aumento na satisfação com suas vidas e situações de trabalho, independentemente de terem mudado de emprego.
De onde viria o dinheiro para implementar a renda básica universal?
A implementação da renda básica universal em larga escala levanta questões sobre seu financiamento. A proposta é vista como uma redistribuição de riqueza por meio de impostos, onde os 10% mais ricos da população contribuiriam para financiar dos demais. Estima-se que 83% da população teria acesso a mais dinheiro, enquanto os 7% de renda média não seriam afetados.
Os defensores acreditam que essa medida poderia combater a insatisfação popular causada pela desigualdade de renda. O estudo demonstrou que a renda não leva as pessoas a pararem de trabalhar, mas sim as empodera, funcionando como um trampolim social que promove igualdade de oportunidades e fortalece a democracia.