Nos bastidores do Congresso Nacional, o clima é de alerta entre os parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT). A primeira grande batalha política de 2025 pode representar também a primeira derrota do governo no ano, com o avanço da proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. O projeto, encabeçado pela oposição e com forte apoio da base bolsonarista, está em franca ascensão e vem conquistando cada vez mais apoio entre os deputados.
Lideranças petistas, em conversas reservadas, já admitem que o projeto poderá ultrapassar as barreiras regimentais da Câmara e chegar ao plenário com força suficiente para ser aprovado. O texto tem como objetivo conceder perdão legal aos manifestantes e envolvidos que participaram da invasão das sedes dos Três Poderes no início do ano retrasado — um dos episódios mais controversos da história recente do país.
Quase atingido o número necessário para urgênciaDe acordo com informações dos corredores da Câmara, a oposição já conseguiu reunir mais de 200 assinaturas no requerimento que pede a tramitação em regime de urgência da chamada “PL da Anistia”. Para que a proposta entre automaticamente na pauta do plenário, são necessárias ao menos 257 assinaturas — número que, segundo deputados da oposição, deverá ser alcançado ainda esta semana.
Caso o requerimento seja aprovado, a proposta pode ser votada de forma rápida, sem passar pelas comissões temáticas, o que preocupa o governo. A pressa da oposição em aprovar o texto se deve ao receio de manobras do Executivo para adiar ou barrar a votação.
A movimentação acelerada dos oposicionistas pegou o PT de surpresa e está obrigando o partido a buscar alternativas para frear o avanço do projeto, que se tornou uma bandeira simbólica para a base bolsonarista e para parte significativa do eleitorado conservador.
Hugo Motta: a peça-chave no jogo político
Apesar da pressão crescente, a decisão sobre a inclusão do requerimento de urgência na pauta do plenário está nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Até agora, Motta tem evitado se comprometer publicamente com qualquer dos lados, o que vem sendo interpretado como uma jogada estratégica para manter o controle da situação.
Na última terça-feira (8), por exemplo, Motta priorizou projetos ligados ao Judiciário, o que foi entendido por analistas como um sinal político. A medida foi vista por alguns como um aceno ao Supremo Tribunal Federal (STF) e uma forma de pressionar os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que veem na aprovação da anistia um caminho para enfraquecer as decisões judiciais relacionadas ao 8 de janeiro.
O presidente da Câmara, segundo fontes próximas, estaria aguardando uma sinalização mais clara do STF antes de tomar qualquer atitude definitiva. Ele tenta evitar um confronto direto com a Suprema Corte, mas também não quer desagradar a ala bolsonarista, que tem influência considerável na Casa.
Criação de comissão especial divide opiniões
Caso o requerimento de urgência não avance, outra possibilidade em discussão seria a instalação de uma comissão especial para analisar o mérito da proposta. Essa alternativa, embora mais lenta, poderia dar ao governo e aos parlamentares contrários à anistia mais tempo para tentar articular mudanças no texto ou mesmo barrá-lo.
Contudo, essa saída encontra forte resistência entre os deputados da oposição, em especial os mais alinhados ao ex-presidente Bolsonaro. Para eles, a comissão poderia servir apenas como uma manobra para atrasar a votação, o que consideram inaceitável diante da mobilização popular em torno do tema.
“Temos o apoio necessário, temos as assinaturas e temos a vontade do povo”, afirmou um deputado da oposição, que preferiu não se identificar. “A tramitação precisa ser direta, sem enrolação. A urgência é legítima e justa.”
PT tenta conter os danos e busca aliados
Enquanto o cenário se torna cada vez mais tenso, o PT tenta articular nos bastidores uma reação capaz de neutralizar a ofensiva bolsonarista. A base governista tem se reunido com frequência para discutir estratégias e avaliar os riscos políticos de uma eventual derrota.
Um dos principais temores do partido é o impacto simbólico que a aprovação da anistia pode ter. Para o governo, ceder neste momento significaria legitimar os atos do 8 de janeiro e enfraquecer o discurso de defesa da democracia e do Estado de Direito — pilares centrais da narrativa adotada por Lula e seus aliados desde o início do mandato.
Além disso, uma derrota nesse campo poderia abrir precedente para outras iniciativas da oposição que buscam reverter decisões judiciais ou legislativas dos últimos anos, especialmente aquelas que envolvem figuras do bolsonarismo.
Clima de tensão e expectativas para os próximos dias
Com a pressão aumentando, os próximos dias prometem ser decisivos para o destino da proposta. O embate entre governo e oposição reflete um cenário político cada vez mais polarizado, no qual decisões legislativas se tornam batalhas ideológicas e simbólicas.
Enquanto os aliados de Bolsonaro veem na anistia uma questão de justiça e reconhecimento político, os opositores enxergam nela uma ameaça ao regime democrático e um retrocesso institucional.
Independentemente do desfecho, o avanço da “PL da Anistia” mostra que 2025 começa com desafios significativos para o governo Lula, que terá de enfrentar uma oposição cada vez mais organizada e disposta a levar seus projetos adiante — mesmo contra a maré política do Palácio do Planalto.