A extinção do NHS vem com argumento de reforma. A ideia é tirar a independência do sistema e integrá-lo à administração direta. Entenda
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, decidiu hoje (13) reformar o NHS England, o sistema de saúde do país que funciona como um SUS britânico. Na prática, a decisão de Starmer pode prejudicar trabalhadores com o desmonte da rede de proteção. Milhares de demissões já são esperadas. Redução de pessoal e atendimentos pode chegar à metade.
A ideia de Starmer é trazer o sistema de saúde de volta ao controle direto do governo, retirando sua independência administrativa. A ação levanta sérias questões sobre o impacto dessa mudança na qualidade do serviço público de saúde. Apresentada como uma iniciativa para “cortar burocracia” e “trazer responsabilidade democrática”, a medida é vista com desconfiança por sindicatos e especialistas, que alertam para riscos de desorganização e desmoralização da força de trabalho do NHS.
O Secretário de Saúde, Wes Streeting, descreveu a mudança como o “último prego no caixão” de uma reforma feita em 2012, considerada “desastrosa” e que teria levado a “tempos de espera recordes, menor satisfação dos pacientes e custos mais elevados” para o NHS. Contudo, a extinção de uma entidade responsável por um orçamento de £200 bilhões – sem um plano claramente delineado para melhorar a eficiência e qualidade do serviço – provoca incertezas sobre os verdadeiros efeitos dessa reformulação.
Confusão no NHS
Para os trabalhadores do NHS, o anúncio veio de forma abrupta e confusa. A Unison, maior sindicato da saúde no Reino Unido, criticou a maneira como a decisão foi comunicada, chamando-a de “shambolic” (“caótica”). A secretária-geral do sindicato, Christina McAnea, destacou a falta de sensibilidade do governo: “O serviço de saúde precisa de milhares de novos profissionais e de melhores condições para reter os que já estão na linha de frente. Dar um aumento salarial digno ajudaria imensamente. Mas este anúncio deixou os funcionários do NHS atônitos”.
A transição de poder do NHS England para o Departamento de Saúde e Assistência Social (DHSC) também levanta preocupações sobre a politização da saúde. Segundo o especialista Hugh Alderwick, da Health Foundation, “reestruturar organizações do NHS é altamente disruptivo e raramente entrega os benefícios esperados pelos políticos”. Ele alerta que o processo pode consumir tempo e recursos que deveriam estar sendo direcionados para melhorar a atenção ao paciente.
Quem defende
Grupos mais ligados à visão liberal, como o think tank Reform, celebraram a decisão, alegando que “decisões sobre £200 bilhões do dinheiro dos contribuintes devem ser tomadas por um governo eleito, e não por uma entidade independente”. No entanto, o histórico das mudanças estruturais no NHS demonstra que cortes e reestruturações administrativas muitas vezes resultam em uma piora na qualidade do serviço e na pressão sobre os profissionais de saúde.
Com informações do The Guardian e do The Independent