O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Antonio Barra Torres afirmou que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, “equivoca-se” ao criticar o trabalho do órgão regulador. Em uma nota dura, de uma página e meia, Barra Torres rebateu a fala de Lula, disse que ela enfraquece a Anvisa e atribuiu a demora na liberação de remédios – apontada pelo presidente – à redução do quadro de servidores da agência.
“A fala [de Lula], entristece, agride, avilta e, acima de tudo, enfraquece a Anvisa”, escreveu Barra Torres. “Necessário é que mais pessoas, possam se somar a nós, em nosso trabalho. Necessário é que gestores públicos, responsáveis por gerar condições de trabalho, cumpram com seus deveres e não terceirizem suas próprias responsabilidades.”
Nesta sexta-feira (23), mais cedo, Lula disse: “Não é mais possível o povo não poder comprar remédio porque a Anvisa não libera. Essa é uma demanda que a gente vai resolver. Porque quando algum companheiro da Anvisa perceber que algum parente dele morreu, porque um remédio que poderia ser produzido aqui, não foi produzido porque eles não permitiram, aí a gente vai conseguir que ela seja mais rápida e que atenda melhor os interesses do país.”
O presidente da República fez as declarações ao participar da inauguração de uma fábrica de medicamentos em Hortolândia, no interior de São Paulo.
“Ao nos qualificar de pessoas que precisam da dor da morte de entes queridos para fazer o próprio trabalho, equivoca-se o orador, e mesmo não desejando, coloca a população contra a Anvisa, que sempre a defendeu”, afirmou Barra Torres.
Quem colocou Barra Torres no comando da Anvisa?
Formado em Medicina, Antonio Barra Torres atuou por 32 anos na Marinha. Entrou para a reserva como contra-almirante em 2019, para assumir um posto de direção na Anvisa, indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). A nomeação foi referendada em sabatina no Senado.
No final de 2019, Barra Torres assumiu de forma interina a presidência da Anvisa. Em outubro de 2020, foi oficializado no cargo por Bolsonaro e teve a nomeação novamente referendada pelo Senado.
À frente da Anvisa, Barra Torres discordou publicamente de Bolsonaro, ao defender o trabalho da agência diante de críticas do então presidente da República.
Um dos embates entre Barra Torres e Bolsonaro se deu quando a Anvisa liberou a vacina contra a covid-19 para crianças, mesmo com o posicionamento contrário do então presidente da República à imunização.