O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, disse nesta segunda-feira (26) que as relações de seu país com o Brasil estão rompidas e acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se “rebaixar” e de querer ser o “representante” dos Estados Unidos na América Latina.
Durante uma cúpula virtual com chefes de Estado da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), Ortega criticou Lula por questionar o controverso resultado das eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela, segundo o qual o ditador Nicolás Maduro diz ter sido reeleito para um terceiro mandato, mas não apresenta provas de que as urnas o elegeram.
O líder sandinista disse que Lula é um dos presidentes latino-americanos que teve uma “reação brutal” e “covarde” por não reconhecer a vitória de Maduro e que ele faz parte de um dos “governos servis, traidores e que se rebaixam”.
– [É um] governo que se apresentou como muito progressista e muito revolucionário. Agora as eleições precisam ser repetidas [na Venezuela], dizem. O Brasil, Lula, diz – afirmou.
Para Ortega, Lula, “de maneira vergonhosa”, está “repetindo palavras de ordem dos ianques [EUA] e dos europeus, e dos governos da América Latina que se rebaixam”.
– Você também está se rebaixando, Lula! Você está se rebaixando, Lula! – exclamou Ortega, que também citou “os escândalos Lava Jato” para criticá-lo.
– Lembrem-se bem de tudo isso (…). Aparentemente, não era um governo muito claro, muito limpo. Lembre-se, Lula, e eu poderia mencionar uma dezena de outras coisas – acrescentou.
E prosseguiu.
– Se você quer que eu o respeite, respeite-me, Lula. Se quiser que o povo bolivariano o respeite, respeite a vitória do ditador Nicolás Maduro e não saia por aí agindo como se estivesse arrastando os pés – concluiu.
No último dia 8 de agosto, o embaixador do Brasil na Nicarágua, Breno de Souza Brasil Días da Costa, deixou o país centro-americano após ser expulso pelo regime de Ortega, segundo a versão oficial, por não ter comparecido ao evento de comemoração do 45° aniversário da revolução sandinista em 19 de julho.
Em contrapartida, o governo brasileiro decidiu expulsar a embaixadora da Nicarágua em Brasília, Fulvia Castro.
Lula tinha um relacionamento próximo com Ortega desde 1980, quando viajou a Manágua para o primeiro aniversário da revolução sandinista, ocasião em que também conheceu o então ditador de Cuba, Fidel Castro.
Nos últimos meses, entretanto, o relacionamento se deteriorou, principalmente devido à perseguição política do regime de Manágua a ex-sandinistas e líderes religiosos.
O próprio Lula explicou a situação no mês passado em uma entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros em Brasília, onde revelou que Ortega não o atendeu por telefone desde que o papa Francisco pediu que ele defendesse a situação de um bispo detido na Nicarágua.
Ortega, por sua vez, confirmou que não atendeu uma ligação de Lula porque, para receber uma mensagem do Vaticano, que ele disse ser um Estado “a favor do império”, a Santa Sé poderia se comunicar diretamente com ele.
– Não precisamos de intermediários. Não pedimos ao Lula para ser um intermediário. Nós não respondemos ao Lula e ele ficou chateado – apontou.
Lula lamentou na ocasião que isso tenha acontecido com alguém “que fez uma revolução como a que Ortega fez para derrotar [Anastasio] Somoza” em 1979, e disse que hoje não sabe “se aquela revolução foi porque ele queria o poder ou porque queria melhorar a vida de seu povo”. A respeito, Ortega declarou que, se ele é um ditador, Lula também é.
– Quantos mandatos ele tem no governo? Já são dois períodos no governo [dois mandatos seguidos entre 2003 e 2011 e o atual, terceiro]. Ou seja, parece que o senhor gosta de ser presidente – indagou.
E concluiu.
– E a partir da presidência desse grande país, o Brasil, o senhor quer se tornar o representante dos ianques na América Latina (…). Por isso rompemos relações com o Brasil – finalizou.
A Nicarágua é um dos poucos países da América Latina que considerou Nicolás Maduro presidente eleito da Venezuela, apesar de as autoridades eleitorais do país sul-americano ainda não terem apresentado as atas de votação de um processo em que a oposição e grande parte da comunidade internacional denunciou como fraudulento.
*EFE