O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, entregou nesta sexta-feira (10) a carta oficial justificando o descumprimento da meta de inflação de 2024. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, fechou o ano em 4,83%, ultrapassando o limite superior da meta, de 4,5%. Essa é a oitava vez desde 1999 que a inflação no Brasil ultrapassa o teto estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). (Confira aqui a íntegra da carta).
Galípolo disse que, embora fatores externos tenham influenciado os preços, os desafios domésticos desempenharam papel significativo. Entre as razões apresentadas estão a forte expansão da atividade econômica, a desvalorização do real e eventos climáticos adversos que impactaram diretamente o custo de vida da população.
Cenário Econômico e Pressões InternasSegundo a carta, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,5% em 2024, com o mercado de trabalho atingindo o menor índice de desemprego da história: 6,5% em novembro. Esse aquecimento econômico pressionou a demanda, contribuindo para o aumento dos preços.
O impacto climático também foi mencionado. A seca prejudicou a produção de carnes, leite, café e laranja, enquanto enchentes no Rio Grande do Sul afetaram os preços de alimentos no segundo trimestre. Esses fatores adicionaram 0,38 pontos percentuais (p.p.) ao IPCA de 2024.
A inflação importada foi outro ponto-chave. A alta do dólar, que subiu de uma média de R$ 4,95 no último trimestre de 2023 para R$ 6,10 em dezembro de 2024, representou uma desvalorização de 19,7% do real e contribuiu com 0,72 p.p. na inflação.
Medidas Adotadas pelo Banco CentralPara conter a inflação, o Banco Central tem elevado a taxa Selic, atualmente em 12,25% ao ano. O Copom já indicou duas altas de 1 p.p. em 2025, o que levará a taxa a 14,25%, o mesmo nível alcançado durante a crise econômica de 2015-2016.
O documento ressalta que a política monetária continuará restritiva para conter o avanço dos preços e garantir a convergência inflacionária. Projeções do BC indicam que a taxa real de juros deve alcançar 9,8% em 2025, o nível mais alto desde 2005.
Galípolo, que substituiu Roberto Campos Neto, era o diretor de Política Monetária antes de assumir a presidência do BC. Ele deve escrever uma segunda carta neste ano, baseada nas projeções oficiais do BC para a inflação, divulgadas no Relatório Trimestral de Inflação (RTI).