Nos últimos 20 anos, as candidaturas femininas no Brasil cresceram consideravelmente
Ainda há muito a evoluir, mas o reconhecimento de que a mulher ainda pode ocupar mais espaços e ter a mesma valorização, aumentou. Veja artigo completo de Nilson Hashizumi em TVT News.
Estas mulheres competentes, competitivas e maravilhosas
Por Nilson Hashizumi
Numa vida corporativa passada, estive à frente do Clube de Marketing da ABA – Associação Brasileira de Anunciantes. Nosso calendário oficial começava em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Não era apenas uma formalidade, mas um reconhecimento da importância crescente da presença feminina na sociedade, na economia e na política.
O Dia Internacional da Mulher, oficializado pela ONU em 1977, tem raízes profundas no movimento operário do final do século XIX e início do XX. Mulheres trabalhadoras enfrentavam jornadas exaustivas, baixos salários e falta de direitos básicos. Em 1908, operárias têxteis dos Estados Unidos saíram às ruas reivindicando melhores condições. Dois anos depois, a ativista alemã Clara Zetkin propôs a criação de um dia anual para celebrar a luta feminina.
Mas, e hoje? Ainda há muito a ser feito.
Mulheres na política: o avanço das candidaturas femininas
Nos últimos 20 anos, as candidaturas femininas no Brasil cresceram consideravelmente. A legislação eleitoral tem um papel crucial nessa evolução. Desde a implementação da cota mínima de 30% de candidaturas femininas por partido, a participação das mulheres no cenário político aumentou de forma significativa:
2002: apenas 11% das candidaturas eram femininas.
2010: cerca de 20%.
2018: aproximadamente 32%.
2022: pela primeira vez, mais de 33%, atendendo ao mínimo exigido por lei.
Ainda assim, a ocupação de cargos eletivos cresce lentamente. Em 2014, apenas 10% dos deputados federais eleitos eram mulheres. Em 2018, esse número subiu para 15%. Em 2022, chegou a 17,7%, um recorde, mas ainda abaixo da média global de 26,5% (segundo a ONU). No Executivo, os avanços são mais lentos: em 2000, apenas 6% dos prefeitos eram mulheres; em 2020, esse número subiu para 12%.
Comunicação, marketing político e representatividade
O espaço da mulher na comunicação governamental e no marketing político ainda é um grande desafio. Embora as mulheres representem 58% dos profissionais de jornalismo no Brasil, apenas 13% ocupam cargos de chefia. No serviço público federal, são 59% da força de trabalho, mas ganham, em média, 24% menos que os homens.
No entanto, é impossível falar do avanço da comunicação política sem destacar profissionais que vêm fazendo a diferença nesse cenário. Mulheres como Natália Mendonça, Dani Braga, Zilmar Fernandes, Tuliana Rosa, Nerea Garcia, Nani Blanco, Mariana Bonjour, Luka Borges, Vanessa Marques e Deniza Gurgel são apenas algumas das referências na comunicação governamental e no marketing político no Brasil atual. Elas não apenas ocupam espaços estratégicos, mas também contribuem para transformar a forma como a política é comunicada e percebida pela sociedade. Seja na elaboração de campanhas eleitorais, no planejamento de estratégias digitais ou na assessoria de governos e parlamentares, essas profissionais demonstram competência, inovação e capacidade de liderança.
Eventos como o Compol Mulheres, que teve edições em 2024 e 2025 na Câmara dos Deputados, ajudam a ampliar esse debate e fomentar redes de apoio e oportunidades. No entanto, ainda faltam dados concretos sobre quantas mulheres ocupam cargos estratégicos na comunicação política.
Mulheres na política: o impacto das políticas afirmativas
As políticas afirmativas desempenham um papel essencial na ampliação da participação feminina na política e na sociedade. A destinação de 30% do fundo eleitoral e do tempo de propaganda para mulheres, determinada pelo STF em 2018, foi um passo importante para fortalecer candidaturas reais e não apenas cumprir formalidades. No entanto, os desafios permanecem:
Falta de suporte partidário: Muitas candidatas enfrentam resistência dentro dos próprios partidos, que priorizam candidaturas masculinas.
Barreiras culturais: O machismo estrutural ainda afasta mulheres da política, reforçando estereótipos de que a esfera pública é um espaço masculino.
Violência política de gênero: Muitas candidatas sofrem ataques misóginos, intimidações e ameaças, o que desestimula a participação.
Mulheres em posições de liderança
Embora a representatividade feminina tenha crescido, a ocupação de posições estratégicas ainda é baixa. A presença de mulheres no Congresso Nacional está abaixo da média mundial, e a proporção de prefeitas e governadoras ainda é mínima.
No setor corporativo, a situação não é muito diferente. Empresas e organizações têm adotado medidas para aumentar a diversidade de gênero na liderança, mas o caminho ainda é longo. Estudos mostram que empresas com maior diversidade de gênero em cargos executivos apresentam melhor desempenho financeiro, inovação e governança.
Mulheres na política: fraudes na cota de gênero
A reserva de 30% das candidaturas para mulheres trouxe não apenas avanços, mas também desafios. Muitas siglas burlam a regra registrando candidatas fictícias – as chamadas candidaturas laranjas. Isso ocorreu em várias eleições:
2020: O TSE reconheceu fraudes em 14 municípios de seis estados.
2024: Cerca de 700 municípios descumpriram a cota mínima.
Para combater essa distorção, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou a Súmula 73, padronizando o combate às fraudes e reforçando a obrigatoriedade de candidaturas femininas reais.
O futuro da participação feminina na política
O avanço da participação feminina na política e na comunicação depende de mudanças estruturais e de uma maior conscientização social. Algumas medidas que podem acelerar esse processo incluem:
Educação e formação política: Incentivar a formação de lideranças femininas desde cedo, por meio de programas educacionais e mentorias.
Apoio financeiro e institucional: Garantir que as candidatas recebam recursos adequados para suas campanhas.
Punição rigorosa para fraudes: Reforçar a fiscalização e punição de partidos que desrespeitem a cota de gênero.
Combate à violência política: Criar mecanismos de proteção para mulheres que sofrem ataques e ameaças durante campanhas e mandatos.
Avançar é mandatório
A trajetória das mulheres na política e na comunicação ainda é marcada por desafios, mas os avanços conquistados nas últimas décadas mostram que a mudança é possível. A participação feminina não é apenas uma questão de equidade, mas um fator essencial para uma sociedade mais justa e democrática.
Seja na política, no marketing ou na comunicação governamental, as mulheres têm mostrado sua competência, competitividade e capacidade de liderança. O caminho é longo, mas a luta continua – e com cada vez mais força.
Que sigamos avançando!
Sobre o autor
Nilson Hashizumi
Nilson Hashizumi é estrategista de marketing político e corporativo, jornalista, fotógrafo, gestor de cultura e preparador de candidatos, grupos e agremiações políticas, com MBA em Comunicação Governamental e Marketing Político. Co-fundador da Alcateia Política, orientou, coordenou e defendeu candidatos majoritários em São Paulo e Pará e candidatos proporcionais em São Paulo e Minas Gerais. Orientado a resultados, trabalha com visão de processos na gestão da comunicação on e off-line para a construção de reputação, imagem e formação de opinião. Atuou por mais de 30 anos na iniciativa privada, organizações da sociedade civil e entidades de classe antes de atuar em favor de entes políticos.