BRASÍLIA – O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), avisou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que pode entregar o cargo se houver taxação nas exportações do agronegócio. Ele esteve no Palácio do Planalto, na última terça-feira (25). Fávaro afirmou a interlocutores que a bancada do PT no Congresso avalia adotar medidas como imposto ou cotas para exportações de carnes e outros alimentos, como soja, milho e etanol.
Segundo auxiliares do presidente, Lula não tem intenção de mexer no comando da pasta, apesar de existir uma pressão para que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira assuma o ministério. Além disso, o petista busca, na reforma ministerial, ampliar o espaço do PSD na Esplanada, não diminuir.
Fávaro vem sendo duramente criticado dentro do setor do agronegócio nos últimos dias. A gota d’água foi a suspensão das linhas de crédito subsidiadas dentro do Plano Safra, o que gerou bastante insatisfação na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e na Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Fávaro, então, reagiu e disse que a Frente Parlamentar da Agropecuária virou uma frente parlamentar da oposição.
A suspensão das linhas de crédito foi feita pelo Tesouro Nacional, por falta de recursos, já que o Orçamento deste ano ainda não foi aprovado no Congresso. A situação foi contornada após o governo federal publicar na última segunda-feira (24) uma medida provisória (MP) que abre um crédito extra de R$ 4,1 bilhões para assegurar as contratações de crédito do Plano Safra de 2024-2025 com apoio do Executivo. A solução foi costurada após consulta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Bloqueio das linhas de crédito azedou relação com a bancada no Congresso
O bloqueio das linhas de crédito pelo Tesouro Nacional na quinta-feira (20) azedou a relação já frustrada entre a bancada do agro e Fávaro. O silêncio do Ministério da Agricultura e a posição do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, que assumiu a dianteira do problema, piorou a percepção da Frente Parlamentar de Agropecuária (FPA) sobre a atuação do ministro.
No dia seguinte à suspensão do crédito, Haddad antecipou que o Planalto entregaria ao Congresso Nacional uma Medida Provisória (MP) abrindo crédito extraordinário para bancar o pagamento das linhas.
A declaração do ministro agradou o deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA, que elogiou a conduta de Haddad e alfinetou Fávaro. “O ministro Fernando Haddad entrou em contato conosco e cumpriu literalmente o que disse que faria. A medida começou a tramitar e, hoje [terça-feira, 25], recebi a notícia dos integrantes do Banco Central de que as contratações foram reativadas e liberadas”, declarou.
Lupion também avaliou que não há diálogo com o Ministério da Agricultura. “A articulação com o ministro Fávaro, infelizmente, fez co que o interlocutor do setor agropecuário no governo seja o Ministério da Fazenda. Então, nós continuamos tratando com o Ministério da Fazenda”, disse. “Não há rompimento quando não há relação”, completou sobre o contato com a pasta da Agricultura.
A bancada do agronegócio reúne 340 parlamentares, entre deputados e senadores, e constitui um dos grupos mais fortes e com maior capacidade de articulação do Congresso Nacional. A posição de Lupion, abertamente contrária à condução do Ministério da Agricultura de Carlos Fávaro, ferveu a Câmara dos Deputados e uma possível substituição do ministro circulou nos corredores nos últimos dias.
Interlocutores do PSD, partido ao qual é filiado Fávaro, descartam qualquer incômodo do ministro e negam a percepção de que ele atravessa uma “fritura”. A legenda presidida pelo cacique Gilberto Kassab descarta a possibilidade de perder o Ministério da Agricultura. Hoje, o PSD considera que detém, de fato, dois ministérios: além da Agricultura, o de Minas e Energia, com Alexandre Silveira à frente. O Ministério da Pesca, de André de Paula, também filiado à sigla, não detém um orçamento atrativo e não compõe o primeiro escalão da Esplanada de Lula.