A ministra da Saúde, Nísia Trindade, tomou apenas uma dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em 2024, conforme apurado pela coluna de Tácio Lorran no Metrópoles, publicada em 21 de fevereiro de 2025. A informação, obtida por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), revela que a gestora, responsável por liderar as políticas de imunização no Brasil, não seguiu integralmente a orientação do próprio Ministério da Saúde, que recomenda duas doses de reforço anuais para pessoas acima de 60 anos. Nísia, que tem 65 anos, completou o esquema primário com duas doses da CoronaVac em 2021 e recebeu uma dose de reforço da Pfizer em 2022, mas parou por aí até registrar apenas mais uma dose em 2024. O caso veio à tona em um momento em que o governo federal intensifica campanhas para ampliar a cobertura vacinal no país, enfrentando desafios como desinformação e baixa adesão.
A discrepância entre a recomendação oficial e o cartão da ministra levanta debates sobre a coerência das ações do Ministério da Saúde. A pasta, procurada pela reportagem, confirmou os dados, mas destacou que Nísia tomou a dose de 2024 em 30 de janeiro, sugerindo que ela ainda poderia receber a segunda dose recomendada até o fim do ano. O episódio ocorre em um contexto de críticas à gestão de estoques de vacinas, com milhões de doses vencidas incineradas recentemente.
Contexto da vacinação no Brasil
A revelação sobre o cartão de vacinação de Nísia Trindade ganha ainda mais relevância ao se considerar o cenário da imunização no Brasil nos últimos anos. Desde 2016, o país enfrenta quedas nas taxas de cobertura vacinal, com doenças como sarampo e poliomielite ameaçando retornar devido à baixa adesão. Em 2024, o Ministério da Saúde incinerou 10,9 milhões de doses vencidas, incluindo 6,4 milhões contra a Covid-19, conforme divulgado anteriormente pela mesma coluna.
Além disso, outros 12 milhões de doses estavam fora da validade até novembro do ano passado, evidenciando problemas logísticos e de planejamento. Nísia, que assumiu o cargo em 2023, tem defendido a ampliação da vacinação como prioridade, mas enfrenta desafios como atrasos na entrega de imunizantes por laboratórios e dificuldades de acesso em regiões remotas.
A pasta adquiriu 69 milhões de doses atualizadas contra a Covid-19 para 2024 e 2025, com investimento previsto de R$ 2,9 bilhões, mas a Anvisa barrou uma versão atualizada da vacina em fevereiro de 2025 por falta de dados de eficácia. Especialistas apontam que a desinformação, o medo de efeitos colaterais e a baixa percepção de risco também contribuem para a resistência à vacinação, um problema que o governo tenta combater com campanhas como o Movimento Nacional pela Vacinação.
Impactos e análises do caso
O fato de a ministra da Saúde não ter seguido completamente as próprias diretrizes do ministério gera desdobramentos que vão além de uma questão pessoal. Especialistas consultados pela reportagem destacam que a situação pode enfraquecer a credibilidade das campanhas de imunização, especialmente em um momento em que o governo busca recuperar a confiança da população nas vacinas.
A recomendação de duas doses de reforço para maiores de 60 anos foi estabelecida com base em estudos que mostram a queda da imunidade ao longo do tempo, sobretudo em grupos vulneráveis como idosos. Nísia, por sua idade, estaria nesse grupo, o que torna sua decisão de tomar apenas uma dose em 2024 um ponto de atenção.
Infectologistas ouvidos pelo Metrópoles reforçam que a proteção contra formas graves da Covid-19 depende de um esquema vacinal atualizado, e a omissão de uma dose poderia ser interpretada como descuido. Por outro lado, o Ministério da Saúde argumenta que a ministra ainda está dentro do prazo para completar o esquema, já que o ano de 2025 ainda está em curso. O caso também reacende discussões sobre a gestão de Nísia à frente da pasta, marcada por críticas de secretários estaduais de saúde, que relatam desabastecimento de vacinas em 11 estados e no Distrito Federal em 2024, contrastando com as afirmações da ministra de que não há falta de imunizantes no país.
Perspectivas para a política de imunização
A polêmica envolvendo o cartão de vacinação de Nísia Trindade coloca em xeque a consistência entre o discurso e a prática no Ministério da Saúde, mas também abre espaço para reflexões sobre o futuro da imunização no Brasil. Com a proximidade do fim de 2025, a expectativa é que a ministra complete o esquema vacinal, o que poderia mitigar parte das críticas e reforçar a mensagem de que as autoridades seguem as mesmas regras que recomendam à população.
No entanto, o episódio expõe a necessidade de maior transparência e coerência na condução das políticas públicas de saúde. Para o futuro, o governo planeja intensificar estratégias como a vacinação em escolas e o combate à desinformação por meio do projeto Saúde com Ciência, enquanto tenta resolver gargalos logísticos que comprometem a distribuição de doses.
A gestão de Nísia seguirá sob escrutínio, especialmente diante de desafios como o desperdício de vacinas e a resistência de parte da população em se imunizar. O fortalecimento do Programa Nacional de Imunizações dependerá de ações concretas para garantir o abastecimento e a adesão, além de um exemplo claro de compromisso por parte das lideranças. Enquanto isso, o caso do cartão incompleto da ministra permanece como um lembrete de que a confiança pública é essencial para o sucesso das políticas de saúde. Para mais informações sobre o tema, acompanhe as atualizações em Agora Notícias Brasil e na categoria Política.