A participação do presidente Lula (PT) na eleição para a Prefeitura de São Paulo teve, até agora, efeito limitado sobre a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), de quem o petista é aliado. As pesquisas indicam que, desde o início da campanha, em 16 de agosto, o líder sem-teto tem oscilado dentro da margem de erro e não conseguiu se consolidar como o candidato da periferia, segmento em que o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), tem ganhado espaço.
Desde a pré-campanha, estrategistas de Boulos apostavam que a entrada de Lula na disputa atrairia o apoio do eleitorado de baixa renda para o psolista, retirando votos do atual prefeito. Mas essa expectativa não se confirmou.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira, 12, Nunes registrou 27% das intenções de voto entre eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos, enquanto Boulos obteve 21%. Nunes tem uma vantagem numérica, mas o cenário configura um empate técnico, considerando a margem de erro de cinco pontos percentuais para mais ou para menos. Na primeira pesquisa Datafolha após o início oficial da campanha, ambos apareciam com 18% nesse segmento.
Em um eventual segundo turno contra Boulos, o favoritismo de Nunes entre os eleitores de menor renda é claro: o prefeito alcança 51% das intenções de voto, enquanto Boulos fica com 37% entre os que ganham até dois salários mínimos.
Segundo integrantes da campanha de Boulos, Lula deve viajar a São Paulo na reta final da campanha para cumprir agendas de rua ao lado do deputado federal, na tentativa de fortalecer o apoio ao candidato do PSOL na periferia.
O presidente fez quase uma agenda por mês com o líder sem-teto em São Paulo. A primeira vez que Lula subiu ao palanque do psolista foi em dezembro de 2023, durante a assinatura do contrato para as obras do empreendimento habitacional Copa do Povo, em Itaquera, Zona Leste da capital.
Desde então, os dois compartilharam o palco em diversos momentos, como no evento de filiação de Marta Suplicy ao PT e no ato das centrais sindicais, momento em que Lula pediu voto ao candidato do PSOL e depois foi multado por propaganda eleitoral antecipada. O encontro mais recente ocorreu no mês passado, quando o presidente participou de comícios de Boulos e Marta no Campo Limpo e em São Miguel Paulista.
Tanto Boulos quanto Nunes tentam reforçar a ideia de que são ligados à periferia. O psolista, embora seja filho de médicos infectologistas, tem um histórico de militância no movimento sem-teto e mora há anos no Campo Limpo, na Zona Sul da capital, com a sua esposa, que é nascida e criada no bairro. O prefeito, por sua vez, tem ressaltado em sua propaganda no horário eleitoral gratuito ser “cria da periferia” e ter nascido no Parque Santo Antônio, também na Zona Sul da cidade.
Márcia Cavallari, CEO do Ipec, diz que apoio de um presidente ou governador não necessariamente ajudará um candidato a prefeito.
– A lógica da eleição municipal é outra. É o dia a dia da cidade, o que funciona e o que não funciona – explicou.
De acordo com Cavallari, o senso comum de que a periferia é de esquerda caiu por terra na eleição de 2016, quando o então tucano João Doria foi eleito em 1º turno, ganhando também nas periferias da cidade.
– Se as ações da prefeitura são percebidas como positivas pela população que mora nas periferias da cidade, certamente o prefeito será reconhecido por isso – disse.
PT QUER MAIOR PRESENÇA DE LULA NA CAMPANHA EM SPIntegrantes do PT de São Paulo avaliam que o presidente Lula, e mesmo a candidata a vice-prefeita, Marta Suplicy, precisam ter maior presença na campanha de Boulos. Eles também defendem que outros líderes do partido deveriam se envolver mais para ajudar o psolista a conquistar o eleitorado de baixa renda.
Outra preocupação entre integrantes do PT paulistano é o tom da campanha de Boulos, que, para alguns, deveria se alinhar mais ao estilo da sigla petista, apesar de o psolista estar à frente da chapa.
Os petistas também pedem que o número 13, do partido, seja mais visível nas inserções voltadas aos candidatos a vereador, temendo que a chapa para a Câmara Municipal seja prejudicada, já que o PT não lidera a candidatura majoritária.
Mesmo entre aqueles que defendem uma maior presença do PT na campanha há o reconhecimento de que isso precisa ser feito com cautela, para evitar prejuízos a Boulos no dia da votação. Como o número de urna do candidato é 50, uma associação excessiva ao PT poderia gerar confusão entre os eleitores.
Em 2008, mesmo com o apoio de Lula, Marta não conseguiu se eleger em SP
Em 2008, quando surfava em popularidade, o então presidente Lula decidiu apoiar a ex-prefeita Marta Suplicy na disputa pela Prefeitura de São Paulo, apostando na associação de sua imagem à dela como principal estratégia de campanha. Àquela altura, Marta já havia governado a capital paulista entre 2001 e 2004, mas não conseguiu se reeleger, sendo derrotada pelo tucano José Serra no pleito de 2004.
No início da campanha de 2008, parecia que a aposta de Lula estava dando certo: Marta chegou a abrir 17 pontos de vantagem sobre Geraldo Alckmin, então candidato do PSDB, alcançando 41% das intenções de voto. No entanto, com o avanço da corrida eleitoral, o cenário mudou. O então prefeito Gilberto Kassab (na época filiado ao DEM, hoje União Brasil) se livrou do status de azarão e, impulsionado pela força da máquina pública, tornou-se mais conhecido, desbancando Alckmin e avançando para o segundo turno como o mais votado. No enfrentamento direto contra Marta, Kassab herdou o apoio da maioria dos adversários e contou com o respaldo do então governador tucano José Serra, seu padrinho político, se reelegendo com mais de 60% dos votos válidos.
*Com informações AE