O governo federal anunciou, em 6 de março de 2025, um pacote de medidas para tentar reduzir os preços dos alimentos, que têm pressionado a inflação e afetado o poder de compra das famílias brasileiras. Entre as principais ações estão a zeragem das alíquotas de importação para itens básicos, como carne, café, açúcar, milho e azeite, além de iniciativas para fortalecer a produção nacional e regular estoques. No entanto, especialistas avaliam que o impacto dessas medidas pode ser limitado devido a fatores estruturais e conjunturais.
O pacote de medidas
O vice-presidente Geraldo Alckmin detalhou as ações do governo, que incluem:– Eliminação das tarifas de importação para produtos como carne (antes 10,8%), café (9%) e açúcar (14%), entre outros.– Fortalecimento do Plano Safra, com incentivos estendidos aos médios produtores para estimular a produção da cesta básica.– Reforço dos estoques reguladores, geridos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para estabilizar preços.– Negociação com estados para zerar o ICMS sobre itens da cesta básica.– Flexibilização da inspeção sanitária em nível municipal para ampliar a comercialização interestadual de produtos.
Essas medidas têm como objetivo aliviar os custos dos alimentos no curto prazo e evitar que os preços continuem pressionando a inflação, que acumulou alta de 7,25% em 12 meses até janeiro. Produtos como carne e café foram especialmente impactados por fatores climáticos adversos e desvalorização cambial no último ano.
Impacto limitado no curto prazo
Apesar do esforço governamental, economistas apontam que o impacto das medidas pode ser modesto. Um dos motivos é que a queda nos preços já era esperada devido à previsão de uma safra recorde de grãos em 2025. A produção brasileira deve atingir 325,7 milhões de toneladas, um aumento de 8,2% em relação ao ciclo anterior. Essa colheita maior deve baratear insumos como milho e soja, reduzindo os custos da produção de carnes e óleo de cozinha. Contudo, os efeitos dessa safra ainda não são imediatos.
Além disso, há preocupações sobre a competitividade dos produtores nacionais frente aos produtos importados. A eliminação das tarifas pode favorecer consumidores no curto prazo, mas também pode prejudicar setores agrícolas locais que enfrentam custos elevados de produção. Representantes do agronegócio alertam para o risco de concorrência desleal com países que subsidiam suas exportações ou possuem estruturas tributárias mais favoráveis.
Pressões estruturais persistem
A inflação alimentar no Brasil é influenciada por fatores estruturais como logística deficiente, alta carga tributária e volatilidade climática. Embora as medidas anunciadas sejam positivas para aliviar pressões imediatas, especialistas destacam que elas não atacam essas causas subjacentes. Além disso, o impacto fiscal das isenções tributárias ainda será calculado pelos ministérios responsáveis.
Cenário político e econômico
A alta nos preços dos alimentos tem sido um dos principais fatores por trás da crise de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo busca equilibrar ações emergenciais com uma estratégia econômica mais ampla para conter a inflação sem comprometer a arrecadação fiscal ou prejudicar setores produtivos estratégicos.
Embora o pacote represente um esforço significativo para aliviar os custos alimentares no curto prazo, sua eficácia dependerá não apenas da implementação rápida das medidas, mas também do equilíbrio entre estímulo à competitividade interna e proteção aos produtores nacionais.