“Mafalda ficaria horrorizada com esse governo argentino. Imagino ela levantando bandeiras, acompanhando os aposentados nas marchas, defendendo avós e mães. Imagino-a indignada com o uso da palavra Liberdade num governo que não aceita a diferença.”Agustín Lecchi, secretário-geral do Sindicato de Imprensa de Buenos Aires, considera que a Argentina vive hoje um dos piores momentos para a liberdade de expressão e para o exercício do jornalismo.
“Prova disso são os ataques aos meios de comunicação e aos jornalistas, a censura aos meios públicos e o ataque aos meios comunitários, em particular ao seu financiamento”, cita Agustín.“Não tenho dúvida que o presidente Milei atacaria Mafalda e Quino como ataca a expressão popular, artística e jornalística. Recentemente, foi publicado, inclusive, um decreto contra a lei de acesso à informação pública, que afeta diretamente nosso trabalho e o direito da população.”, complementa. InspiraçãoA personagem de Quino também é referência para artistas e educadoras brasileiras. A quadrinista May Solimar aprendeu com Mafalda que é possível expressar em linguagem simples e lúdica as reflexões mais complexas.
May lembra da personagem quando produz quadrinhos que tratam do combate ao machismo e do racismo, assim como quando ilustra as vivências de mulheres pretas, mães solo.“A Mafalda é uma inspiração incrível. Um símbolo de ativismo. Ela atinge vários públicos e fala como todo mundo entende. Mostra a arte como forma de ligação das pessoas com lutas importante”, destaca May.A professora e agente de turismo Taina Gonçalves também tem Mafalda como referência. Atualmente morando em Buenos Aires, ela trabalha como guia e orientadora, especialmente de brasileiros que vão estudar medicina na Argentina.
“Mafalda é sempre atual com seus questionamentos. Como educadora uso as tirinhas para ensinar meus alunos para além do idioma. Ela me ajuda a incentivá-los como seres humanos”, conta Taina“Mafalda nunca envelhece. Em meio a crises e mudanças é fundamental que continuemos defendendo o direito de questionar, expressar nossas opiniões e buscar um mundo mais justo. Não devemos perder a capacidade de nos indignar.”Por Juliana Cézar Nunes, repórter da Agência Brasil