Pressionado pela queda na aprovação popular, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) utilizou um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, nesta segunda-feira (24), para promover sua gestão em tom de campanha eleitoral, segundo análises da imprensa.
O discurso seguiu o modelo de comunicação adotado pelo novo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, e foi criticado por jornais como O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo, que viram na transmissão um uso político da estrutura pública para reverter a impopularidade do governo.
“O mundo mágico de Lula da Silva e de Sidônio Palmeira é outro”, escreveu o jornal O Estado de S. Paulo em editorial.
“Tudo de Graça”: Lula Apresenta Programas Como SoluçãoNo pronunciamento, Lula lançou dois programas como símbolos de sua gestão:
Pé-de-Meia – um auxílio financeiro para alunos do ensino médio, que o governo afirmou estar ajudando 4 milhões de jovens a permanecerem na escola. No entanto, parte dos recursos foi represada devido à falta de previsão orçamentária.
Novo Farmácia Popular – ampliação da gratuidade de medicamentos e inclusão de fraldas geriátricas no programa. “Tudo de graça”, resumiu Lula.
A transmissão não teve caráter de prestação de contas, mas sim de promoção do governo, segundo a análise do Estadão:
“Pelo que diz, como diz e quando diz, o pronunciamento é tudo menos um comunicado tradicional ao país”, afirmou o jornal.
Críticas: Campanha Eleitoral Antecipada
Os jornais apontaram que o uso da rede nacional não se justificava por nenhum evento emergencial e foi motivado pelo desgaste da popularidade de Lula.
“A única urgência óbvia é a queda acentuada da popularidade de Lula”, escreveu o Estadão.
A Folha de S.Paulo também destacou o desespero do governo diante da rejeição crescente.
“Um governo desnorteado e atônito pelo tombo nas pesquisas já não mede palavras para reverter sua rejeição”, avaliou o jornal.
O último levantamento do Datafolha apontou uma queda de 11 pontos na avaliação positiva do governo em apenas dois meses (de 35% para 24%). Já a avaliação negativa subiu de 34% para 41%, o pior desempenho de Lula em seus três mandatos.
Uso da TV Para Propaganda?
A Folha criticou a ideia do governo de transformar pronunciamentos em uma ferramenta quinzenal, classificando-a como “mera propaganda”.
“Cogitar que tais declarações informais sejam quinzenais é um abuso que instituiria o palanque nacional de rádio e TV”, pontuou o jornal.
O jornal O Globo também avaliou que a estratégia não resolverá os problemas do governo, já que não há muito o que divulgar.
“Por mais que haja problemas na comunicação do Planalto, é difícil divulgar um governo que não tem muito o que mostrar”, analisou o veículo.
A publicação enfatizou que Lula deveria utilizar a TV para comunicados realmente relevantes, e não para exaltar sua administração sem apresentar resultados concretos.
“Os brasileiros não estão interessados em anúncios de fundo eleitoreiro, mas em resultados concretos”, concluiu o Globo.