Ministério das Relações Exteriores reage à matéria publicada pela revista britânica, que criticou política externa e interna da gestão petista
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil enviou, nesta terça-feira (1º), uma carta à revista britânica The Economist em resposta a um artigo publicado pela publicação em 29 de junho, no qual foram feitas duras críticas ao governo Lula, tanto em sua atuação internacional quanto em temas de política doméstica. Na carta, o Itamaraty defende a atuação do presidente e rebate ponto a ponto as alegações da revista, apontando o que considera serem os compromissos centrais da gestão atual: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo.
A The Economist, conhecida por sua linha editorial liberal e por análises políticas e econômicas influentes, publicou uma matéria com avaliação negativa sobre os rumos do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre os principais alvos da publicação estavam a condução da política externa, considerada “ambígua” em relação a regimes autoritários e conflitos internacionais, e a política econômica doméstica, descrita como intervencionista e de viés populista. A revista também sugeriu que o presidente brasileiro se afasta de alianças tradicionais do Ocidente e não exerce influência clara para mediar conflitos globais.
Diante das críticas, o Itamaraty reagiu de forma direta. Em sua carta, afirmou que “poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo”. A chancelaria destacou a atuação de Lula à frente do G20, onde, segundo o documento, o presidente brasileiro “construiu um difícil consenso entre os membros” e promoveu uma “ampla aliança global contra a fome e a pobreza”.
Outro ponto de destaque na resposta foi a proposta de taxação global de bilionários, apresentada por Lula no âmbito do G20 e endossada por diversos países do Sul Global. O Itamaraty reconhece que a proposta pode ter “incomodado muitos oligarcas”, numa crítica implícita à resistência de setores econômicos e da elite global.
Sobre a crítica de que o Brasil estaria se alinhando demais aos BRICS e se afastando dos países ocidentais, o texto defende que o bloco é um “ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”. A presidência brasileira do BRICS, afirma o ministério, busca fortalecer o grupo como “espaço de concertação política” em defesa da reforma da governança global e do desenvolvimento sustentável.
A carta também rebate a insinuação da revista de que Lula estaria sendo leniente com regimes autoritários e com violações internacionais. O governo brasileiro, segundo o Itamaraty, se posiciona com base no direito internacional, sem “tratamento à la carte”. O texto critica o que considera ser o uso distorcido do direito de autodefesa por algumas nações, em especial nos recentes ataques contra o Irã e instalações nucleares, que o Brasil condenou por violarem normas da ONU e da Agência Internacional de Energia Atômica.
Outro trecho importante do documento resgata a posição do Brasil diante da guerra na Ucrânia. Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro “condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia” e defende uma solução diplomática para o conflito, mantendo-se fiel à tradição brasileira de mediação e não alinhamento automático.
No campo ambiental, a carta pontua que Lula não é “popular entre os negacionistas climáticos”, e ressalta seu posicionamento contra a nova corrida armamentista global. Em vez de investimentos em destruição, o presidente tem defendido mais recursos para o combate à fome e às mudanças climáticas.
Ao final, o Itamaraty afirma que Lula é respeitado globalmente por líderes políticos, empresariais e acadêmicos, e conclui que, para “humanistas de todo o mundo”, a autoridade moral do presidente brasileiro “é indiscutível”.
A resposta oficial demonstra que o governo brasileiro busca preservar sua imagem internacional num momento em que se intensificam os desafios da diplomacia global, com disputas geopolíticas em curso e cobranças por posições mais assertivas. Ao rebater a The Economist, o Itamaraty sinaliza que não aceitará críticas sem contestação e que continuará projetando Lula como liderança legítima do Sul Global no cenário internacional.