São Paulo – A ministra Gleisi Hoffmann (PT), da Secretaria das Relações Institucionais, pediu ajuda ao presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, para conter o impacto provocado pelo vídeo em que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) afirma que o escândalo do INSS envolve empréstimos consignados e chega a R$ 90 bilhões.
O vídeo foi divulgado na última terça-feira (6/5) e ultrapassou 100 milhões de visualizações nas redes sociais no dia seguinte. A Controladoria-Geral da União (CGU) já rebateu Nikolas, afirmando que a investigação da Polícia Federal (PF) mira descontos de mensalidade associativa que somam R$ 6,3 bilhões.
Pedido de Gleisi
Durante a reunião na Febraban, na quinta-feira (8/5), Gleisi solicitou que os bancos divulguem números corretos sobre os valores de empréstimos consignados.
No vídeo, Nikolas dá a entender que foram desviados R$ 90 bilhões de consignados de aposentados no país, dentro da farra dos descontos do INSS.
Como o Metrópoles já mostrou, há uma suspeita de ligação entre a fraude em descontos de aposentadorias e empréstimos consignados, uma espécie de operação casada entre entidades envolvidas no esquema e instituições de créditos.
No entanto, as investigações estão centradas nas cobranças de mensalidade e ainda não apontaram o volume de dinheiro envolvendo consignados.
Os R$ 90 bilhões citados pelo deputado bolsonarista como números da fraude, na verdade, correspondem ao total de empréstimos consignados – os que são descontados diretamente da folha de pagamento – assinados em 2023.
O número foi ainda mais amplificado por outros influenciadores. Na quinta-feira (8/5), Thiago Nigro, o “Primo Rico”, divulgou que a fraude no INSS pode ter gerado um rombo de R$ 219 bilhões. No entanto, o número soma os valores de empréstimos consignados e descontos associativos destinados a entidades, mas não discrimina quais valores foram autorizados pelos beneficiários.
A farra dos descontos indevidos do INSS foi revelada pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023 que embasaram a megaoperação da Polícia Federal (PF), deflagrada em abril deste ano, contra desvios que podem chegar a R$ 6,3 bilhões. O escândalo culminou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Bandeira do governoO caso dos empréstimos consignados é especialmente sensível para o governo porque o crédito fácil e barato é uma bandeira da gestão petista. O primeiro mandato de Lula (2003-2006) é considerado o período da grande expansão de consignados.
Em 2003, a Lei 10.820 estendeu a modalidade para além dos servidores públicos, mas com taxas menores para trabalhadores vinculados a determinados sindicatos e servidores, além de condições especiais para aposentados e pensionistas.
Em março deste ano, o governo expandiu a oferta de empréstimos descontados em folha para trabalhadores do regime CLT. A ideia é desvincular a necessidade de convênios de empresas com instituições financeiras para obter empréstimos.
A nova modalidade de crédito tem sido defendida pelos ministros do governo como uma importante ação para movimentar a economia. No mês passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), promoveu o programa diante de funcionários da empresa Mercado Livre, durante uma agenda de Lula. Nesta semana, Gleisi destacou a política na Febraban.
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“O presidente Lula tem sempre falado que precisamos colocar dinheiro de forma mais barata na mão do povo, para que tenhamos real capacidade de desenvolvimento”, disse a ministra após a reunião.
Além de Isaac Sidney e Gleisi, também participaram da reunião na Febraban Gabriel Cohen (ABIPAG), Juvandia Moreira (CUT), Felipe Prince (BB), Mário Sérgio Telles (CNI), Matias Granata (Itaú), André Martins (Itaú), Everton Gonçalves (ABBC), e André Duarte (Bradesco).