São Paulo – O cientista político Jorge Folena avalia que o indiciamento do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União-MA), pela Polícia Federal, por suspeita de desvio de recursos públicos, não surpreende. Em conversa nesta quarta-feira (12) com Gustavo Conde, no Onze News, transmitido pela TVT, ele destacou que a “acomodação” do governo com “os liberais” não está dando certo e não vai melhorar.
“Não é nenhuma novidade esse assunto. Me lembro de quando ele (Juscelino) foi nomeado. Vieram várias denúncias com relação a propriedades. Não é novo esse tema. Surpresa, e desagradável, é a Polícia Federal divulgar essa investigação no mesmo momento infeliz do leilão do arroz, que foi anulado, e que envolve os mesmos personagens da direita, do centrão”, disse.
Nessa terça (11), a PF enviou relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Flávio Dino. O ministro Juscelino é indiciado por crimes como corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa.
No mesmo dia, o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, anulou o leilão para compra de arroz importado. A decisão foi tomada após dúvidas sobre as capacidades técnicas e financeiras por parte das empresas vencedoras.
Pessoas com histórico nada ilibado
Além disso, havia empresas vencedoras ligadas a pessoas próximas do então secretário de Política Agrícola, Neri Geller, que acabou pedindo demissão. O ex-deputado federal (PP-MT) intermediou a aproximação de Lula com o agronegócio, setor majoritariamente apoiador de Jair Bolsonaro (PL).
“São pessoas que nós sabemos que têm um histórico que não seria ilibado no Brasil. A história do Centrão é marcada por outros personagens. Então pra mim a novidade é ser divulgada agora, para mais uma vez tentar enfraquecer e emparedar o governo do presidente Lula”, disse.
O cientista chamou atenção para o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins, que nesta terça chamou o governo de “desgoverno”. E que disse se recusar a falar com Lula. Para Folena, esse é mais um recado da classe dominante, que desde a eleição, mostrou que iria radicalizar.
“O governo tenta restabelecer a democracia e os rumos do desenvolvimento, mas com esse parlamento e essa estrutura partidária é impossível. Para defender o programa eleitoral vencedor, que está sob ataque da classe dominante, Lula tem de mudar, se comunicar mais com a população, falar dos avanços mas também das dificuldades que enfrenta”, disse.
Indiciamento de Juscelino tem relação com suspeitas de irregularidades via Codevasf
O ministro do governo, que na verdade é do Centrão e entrou nessa busca de Lula de uma composição pela governabilidade, é suspeito de participar de um esquema de desvio de emendas parlamentares. Isso quando era deputado federal. A cidade beneficiada é Vitorino Freire, no interior do Maranhão, cuja prefeita é Luanna Rezende, irmã de Juscelino. O pai já foi prefeito duas vezes.
Segundo o jornal O Globo, o dinheiro teria sido enviado por meio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A destinação seriam obras de pavimentação.
Ainda segundo o jornal, relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) aponta que 80% da estrada custeada pela emenda beneficiou propriedades de Juscelino e de seus familiares na região.
O ministro, porém, divulgou nota. “Trata-se de um inquérito que devassou a minha vida e dos meus familiares, sem encontrar nada. A investigação revira fatos antigos e que sequer são de minha responsabilidade enquanto parlamentar. No exercício do cargo como deputado federal, apenas indiquei emendas parlamentares para custear obras. A licitação, realização e fiscalização dessas obras são de responsabilidade do Poder Executivo e dos demais órgãos competentes”, informou o ministro Juscelino Filho nesta quarta-feira (12), por meio de nota.
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Redação: Cida de Oliveira, com informações da Agência Brasil – Edição: Helder Lima