Por que Donald Trump quer a Groelândia? Entenda os motivos em TVT News
Groelândia e o xadrez geopolítico
Donald Trump assume hoje (20) a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez. Neste mandato, contudo, o político de extrema direita deve ser mais radical. Trump retorna à Casa Branca empoderado. Ao lado dele, o controle do Legislativo (ambas as Casas) e a maioria na Suprema Corte. Antes mesmo de assumir, o magnata já mostrou aprofundamento em suas pautas. Ataques contra minorias, políticas agressivas contra imigrantes, censura. Tudo isso deve aumentar. Além do expansionismo e a ameaça de guerra.
Assim como o braço ideológico dos Estados Unidos no Oriente Médio, Israel, Trump promete uma agenda de conquista de territórios. Apoiadores próximos, como o dono do X, antigo Twitter, Elon Musk, prometem um governo de abalo na geopolítica. Entre as questões levantadas por eles, e pelo próprio presidente, alusões ao Macartismo e domínios. As principais: a conquista (ou invasão) do Canadá, ataques contra o Reino Unido para “livrar o povo do comunismo” e a tomada da Groenlândia, ilha pertencente à Dinamarca, que já disse que não vai aceitar a ambição trumpista.
Por que Trump quer a Groenlândia?
“A última vez que vi alguém tão empolgado com a Groenlândia foi em uma partida de War”, afirma o especialista em relações governamentais Bruno Quintiliano. A alusão de Quintiliano ao jogo de tabuleiro já começa a mostrar a relevância do território, que não para nas questões geográficas. A Groenlândia é uma importante região que liga, pelo Ártico, Europa, América do Norte e, mais acima, as terras congeladas que vão até a Sibéria, na Rússia.
Com o aquecimento global, que Trump diz oficialmente não acreditar, a Groenlândia tende a se tornar um acesso ainda mais relevante. O derretimento das geleiras deve abrir rotas marítimas no Norte. Além disso, as terras congeladas – que hoje são maioria do território da ilha – guardam riquezas ímpares. “Em 2023, o governo dinamarquês publicou um relatório destacando a ilha da Groenlândia como um grande depósito de minerais estratégicos, revelando que a região possui reservas significativas de cobalto, grafite, lítio e níquel, fundamentais para indústrias em pleno crescimento, como baterias e veículos elétricos”, explica Quintiliano.
“Em 2022, a CNN divulgou que um grupo de bilionários, incluindo nomes como Jeff Bezos, Michael Bloomberg e Bill Gates, estava investindo na Kobold Metals, uma empresa de exploração mineral com foco na Groenlândia (…) Outra evidência do potencial exploratório da região, é um estudo da Agência Federal de Informação Energética dos Estados Unidos, divulgado em 2012, que revelou que o Ártico contém cerca de 13% das reservas de petróleo e 30% das reservas de gás natural ainda não descobertas”, completa.
Trump e a fé no aquecimento global
O interesse de Trump nos mares do Norte não é vanguarda na geopolítica. China e Rússia, por exemplo, possuem tratados de pesquisa e cooperação na chamada “Rota do Mar do Norte”. A navegação no àrtico cresceu 37% entre 2013 e 2023. “Estima-se que a Rota do Mar do Norte reduza em até 40% a distância de navegação entre portos no noroeste europeu e o Extremo Oriente, quando comparada à tradicional rota pelo Canal de Suez”, afirma o especialista.
Além disso, Trump sequer inova na sanha expansionista norte-americana rumo à Groenlândia. “Trump não é o primeiro presidente americano a almejar a aquisição da Groenlândia. Harry Truman, em 1945, também demonstrou interesse em comprar a ilha após a Segunda Guerra Mundial, como parte de uma estratégia para conter a expansão das forças soviéticas. Oito décadas depois, Trump recorre à mesma lógica estratégica, observando a crescente presença da Rússia e da China no Ártico”, completa Quintiliano.
Por fim, o especialista escancara a antítese de Trump rejeitar o aquecimento global ao demonstrar a ambição. “Ao trazer à tona o desejo de “conquistar” a Groenlândia, Trump revive um sonho antigo. A ilha, assim como em um jogo de War, não é apenas um pedaço de terra, mas um ponto crucial em um jogo maior de poder, segurança e recursos. A questão vai além de uma simples disputa por território, ela é tão peculiar que faz Trump crer nas mudanças climáticas e apelar para a questão de segurança nacional.”