O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer Gabriel Galípolo blindado de eventuais críticas ao Banco Central (BC), em decorrência da alta na taxa básica de juros anunciada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A ordem é que as críticas sejam feitas de maneira genérica e que haja cuidado para não individualizar condutas.
A decisão do BC, que resultou na primeira alta da Selic desde o início do governo, foi tomada de maneira unânime pelo Copom, a exemplo do que já vinha ocorrendo desde que o colegiado interrompeu o ciclo de queda dos juros.
O comunicado divulgado após o anúncio da nova taxa em 10,75% ressaltou argumentos como a atividade econômica intensa, a pressão sobre o emprego, o cenário externo e, em especial, a desancoragem das expectativas para a inflação.
O Copom reservou espaço no texto para uma nova cobrança ao governo, com um apelo por uma política fiscal “crível”.
Em geral, o Planalto já colocou na conta a perspectiva de uma elevação dos juros ao menos até o fim do ano ou início do ano que vem. Ainda assim, o governo torce para que o ciclo de alta seja mais curto, com uma perspectiva mais otimista para os juros a partir de janeiro.
Muito do discurso do Planalto nessa direção costuma se apoiar no cenário externo, em especial na queda dos juros nos Estados Unidos.
A ideia do governo é que as críticas ao BC sejam mantidas, mas fiquem a cargo de nomes como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Ontem, Gleisi disse à CNN que continuará “brigando” pela queda da Selic. Mais tarde, ela foi às redes sociais para reclamar da decisão do Copom.
“No dia em que EUA cortam 0,5 ponto nos juros, tendência mundial, BC do Brasil sobe taxa para 10,75%. Além de prejudicar a economia, vai custar mais R$ 15 bi na dívida pública. Dinheiro que sai de educação, saúde, meio ambiente para os cofres da Faria Lima. Não temos inflação que justifique isso!”, escreveu Gleisi.