O Exército Brasileiro firmou um contrato com a Starlink, empresa do bilionário Elon Musk, para o fornecimento de internet via satélite durante uma operação militar conjunta com as Forças Armadas dos Estados Unidos em 2025. A informação foi revelada pelo jornalista Paulo Cappelli, do portal Metrópoles, e gerou repercussão nas redes e nos bastidores políticos.
A medida, embora técnica em sua essência, ocorre em meio a uma tensão latente entre Musk e setores do governo e do Judiciário brasileiro, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e seu ministro Alexandre de Moraes.
Internet via satélite em manobras conjuntas com os EUA
O contrato entre o Exército Brasileiro e a Starlink visa garantir uma infraestrutura de comunicação eficiente durante um exercício militar conjunto com os Estados Unidos. A conectividade via satélite tem se tornado cada vez mais essencial para operações desse porte, sobretudo em áreas remotas, onde a cobertura convencional é limitada ou inexistente.
A Starlink, conhecida por sua extensa rede de satélites em órbita baixa, tem se consolidado como uma das principais fornecedoras desse tipo de serviço, oferecendo alta velocidade e baixa latência. O uso da tecnologia da empresa norte-americana nas manobras militares reforça a busca por maior eficiência operacional e interoperabilidade com as forças dos EUA, parceiras históricas do Brasil em treinamentos e operações conjuntas.
Musk e o embate com o STF brasileiro
Apesar da justificativa técnica, o contrato com a Starlink chama atenção devido ao posicionamento público de Elon Musk em relação ao Brasil, especialmente ao Supremo Tribunal Federal e ao ministro Alexandre de Moraes.
Nos últimos anos, Musk tem feito críticas contundentes à atuação do Judiciário brasileiro em temas relacionados à liberdade de expressão e ao uso de redes sociais. Recentemente, sua plataforma social, X (antigo Twitter), entrou em rota de colisão com decisões judiciais do STF, resultando em multas, ordens de bloqueio de perfis e até ameaças de banimento da rede no país.
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A tensão aumentou quando Musk, agora ligado ao governo norte-americano de Donald Trump, começou a articular a imposição de sanções internacionais a autoridades brasileiras, entre elas Moraes. As medidas seriam uma resposta ao que Musk considera abusos e violações de direitos fundamentais.
Contrato técnico ou gesto político?
Diante desse contexto, a decisão do Exército Brasileiro de contratar a Starlink gera questionamentos. Seria uma simples escolha técnica, baseada na qualidade dos serviços prestados? Ou haveria também uma mensagem política nas entrelinhas, mesmo que involuntária?
Críticos veem a decisão com desconfiança, alegando que o contrato parece contraditório. Afinal, o mesmo Estado que age com firmeza contra as ações e declarações de Musk em território nacional agora firma parceria com sua empresa em um setor estratégico como as comunicações militares.
O general Tomás Paiva, atual comandante do Exército, é apontado por opositores como alguém que tem mantido uma postura de subordinação política ao governo federal e às instituições do Judiciário. Assim, para muitos, a contratação da Starlink soa contraditória com essa postura — ou, como dizem nas redes, seria uma forma de “arrego” ou até mesmo falta de alternativa diante do monopólio tecnológico da empresa de Musk nesse segmento.
Faltam opções no mercado?
É importante destacar que, apesar da polêmica, o mercado global de internet via satélite de alta capacidade ainda é bastante limitado. Poucas empresas têm a estrutura tecnológica e a cobertura global que a Starlink oferece, o que torna a empresa uma fornecedora quase incontornável para demandas específicas, como as das Forças Armadas.
Outras alternativas, como a OneWeb ou a Amazon (com o projeto Kuiper), ainda estão em fases iniciais de expansão. Diante disso, o Exército pode ter optado pela solução mais eficiente disponível no momento, mesmo que isso envolva uma figura polêmica como Elon Musk.
Parcerias militares e interesses estratégicos
A cooperação entre o Brasil e os Estados Unidos em temas militares não é novidade. As duas nações mantêm acordos de defesa, como o Acordo de Pesquisa, Desenvolvimento, Teste e Avaliação Assinado (RDT&E) em 2020, além de diversas iniciativas bilaterais.
A utilização da Starlink em treinamentos conjuntos pode ser vista como mais um passo na integração tecnológica entre os exércitos, alinhando protocolos e sistemas para facilitar a colaboração futura. Nesse contexto, o fornecimento de internet é apenas uma peça no xadrez geopolítico.
O silêncio do STF e de Alexandre de Moraes
Até o momento, o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes não se pronunciaram sobre o contrato firmado entre o Exército e a empresa de Musk. A ausência de manifestação pode indicar uma tentativa de evitar novas tensões ou, simplesmente, o entendimento de que o caso não envolve diretamente o Judiciário.
No entanto, dada a notoriedade das recentes disputas entre Moraes e o bilionário, qualquer aproximação institucional entre o Brasil e Musk — ainda que por meio de contratos técnicos — pode acabar sendo politizada.
Reflexos no cenário político
A revelação do contrato gerou discussões nas redes sociais e entre analistas políticos. Parte da população interpreta a parceria como um sinal de pragmatismo por parte do Exército, enquanto outros enxergam como mais uma prova da influência norte-americana nos bastidores das instituições brasileiras.
Para apoiadores de Musk, o contrato é uma vitória simbólica, demonstrando que, apesar das tentativas de bloqueio, o empresário segue influente e presente no país. Já para críticos do governo atual, o episódio mostra incoerência e falta de firmeza diante de figuras que atacam instituições democráticas.
Conclusão: entre a eficiência e a controvérsia
O contrato entre o Exército Brasileiro e a Starlink escancara o dilema entre eficiência tecnológica e coerência institucional. Em um mundo cada vez mais conectado, depender de empresas privadas com forte presença global é inevitável. No entanto, quando essas empresas se tornam protagonistas de embates políticos, qualquer parceria ganha contornos de controvérsia.
Resta saber se o caso será apenas mais uma nota no histórico de cooperação militar ou se se tornará um novo capítulo na já turbulenta relação entre Elon Musk e o Brasil.