Ao fazer uma análise dos resultados das eleições municipais deste ano, o jornal O Estado de S.Paulo apontou taxativamente quais as novas tendências que enxerga no eleitorado brasileiro: “uma direita robustecida, mas fracionada”, “uma esquerda em crise”, “a revitalização da política tradicional” e o “desgaste das duas lideranças dominantes em âmbito nacional”. A avaliação foi publicada nesta terça-feira (30) em editorial intitulado O Eleitorado Consolida sua Preferência à Direita.
No texto, o periódico afirma que, “no cômputo geral, candidatos radicais foram rechaçados”, e o centro triunfou, “tanto em sua faceta ideologicamente moderada quanto em sua faceta fisiológica”. O jornal cita como exemplo o desempenho do PSD, que levou 887 prefeituras, e o MDB, com 853.
– Em certo sentido, os partidos do Centrão voltaram às suas origens de contraponto ao progressismo na Constituinte de 1988. Em outro sentido, essa volta foi abastecida pelo fortalecimento desses partidos no Congresso, munidos de multibilionários fundos eleitorais e, sobretudo, emendas parlamentares – apontou.
Em relação à esquerda, o jornal indicou como a “mais eloquente da crise de representatividade” a sua “desidratação no Nordeste”, onde perdeu metade das capitais, permanecendo somente com duas.
– Em número de prefeituras, o PT ficou em 9º lugar, atrás até do moribundo PSDB. O maior vencedor no campo progressista, o PSB, ficou em 7º lugar. No geral, mesmo com a máquina do Executivo nacional, foi o pior resultado da esquerda desde a redemocratização. A pauta da inclusão social foi incorporada por outros espectros e a credibilidade da esquerda para implementá-la foi irremediavelmente maculada pela corrupção e pela recessão na gestão lulopetista de Dilma Rousseff. As políticas assistencialistas já não são novidade e carecem de combustível por causa do aperto fiscal. Faltam ideias para atender às preocupações da população com a segurança e seus desejos de empreender – observou.
Falando de candidatos específicos, o editorial descreveu João Campos (PSB), prefeito reeleito no Recife e namorado da candidata derrotada à Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB), como um “protagonista novo” e uma “promessa”. Já o ex-postulante Guilherme Boulos (PSOL), também em São Paulo, mostrou possuir um “teto intransponível”.
– Em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), mesmo com o apoio do PT e recursos de campanha dez vezes maiores, perdeu sua segunda disputa consecutiva. Com praticamente o mesmo número de votos de 2020, Boulos perdeu em quase todos os distritos e se revelou um candidato de nicho, com um teto intransponível – sentenciou.
Na disputa entre o Partido dos Trabalhadores, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o Partido Liberal, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o jornal disse que a sigla comandada por Valdemar Costa Neto se saiu melhor. No entanto, considera que ambos os líderes mais proeminentes nacionalmente, Lula e Bolsonaro, “mais perderam do que ganharam” em suas apostas.
Ao apresentar sua conclusão, o periódico sintetiza que as preferências do eleitorado estão favorecendo a direita e que o Centrão robustecido está sempre pronto para migrar para o lado onde está a tendência da população.
– Olhando para 2026, Lula sempre será um candidato forte. Mas está envelhecido, em idade e ideias. Em termos partidários, encaminha-se para a disputa em “esplêndido isolamento” e sem aquela que foi sua principal alavanca em 2022: a contenção de Jair Bolsonaro. As moedas de troca com um Centrão robustecido em âmbito regional e no Legislativo federal minguaram, e esse grupo está sempre pronto para migrar para onde estiverem as preferências do eleitorado. Neste momento, elas apontam para a direita. Mas ainda falta uma liderança capaz de representá-las em âmbito nacional – finalizou.