As recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a “única coisa errada” no Brasil ser a “taxa de juros” foram contestadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, em editorial publicado nesta terça-feira (17). Para o periódico, a fala é um indicativo de que Lula não está apenas em forma após suas cirurgias, como também está com disposição para interferir na gestão de Gabriel Galípolo, nomeado pelo petista para presidir o Banco Central a partir do próximo ano.
A declaração de Lula ocorreu durante entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, que foi ao ar no último domingo (15). Na ocasião, ele criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de elevar a taxa de juros para 12,25% e afirmou que seu governo vai “cuidar disso”.
– Ao contrário do que disse o presidente, contudo, há explicação para a alta dos juros. O Copom informou que decidiu elevar em 1 ponto porcentual a Selic, entre outras razões, como resposta à flacidez do pacote de ajuste fiscal anunciado pelo governo. “A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, informou o Copom – pontuou o Estadão.
O veículo de imprensa frisou que o próprio escolhido de Lula, Gabriel Galípolo, votou a favor da alta dos juros diante da situação. Também observou que Galípolo tem sido “sido especialmente conservador em suas declarações sobre a inflação e o trabalho do BC em contê-la”.
– Pode ser que tudo mude a partir de sua posse e que Galípolo, para agradar ao padrinho, se disponha a “cuidar disso”, isto é, baixar os juros na marra. Só daqui a algum tempo saberemos qual versão de Galípolo presidirá o BC, se o zelador prudente do poder de compra da moeda que ele parece ser até aqui ou o irresponsável sabujo do presidente perdulário, como desejam os petistas – ponderou o jornal.
No texto, o periódico ainda refutou a fala de Lula sobre a inflação estar “totalmente controlada”, em “quatro e pouco”.
– Os “quatro e pouco” de inflação a que Lula se referiu são, na verdade, 4,87% no acumulado em 12 meses até novembro, como verificou o IBGE, nada menos do que 1,87 ponto porcentual acima do centro da meta inflacionária fixada pelo próprio governo para este ano. A inflação, que nos últimos meses se espalhou por todos os preços, já estourou o teto máximo permitido para 2024, caminha perigosamente para ficar acima do limite do primeiro período de 2025 e está longe de estar “totalmente controlada”, como afirma Lula. Mas o demiurgo é incansável – adicionou o jornal.