Em editorial publicado nesta sexta-feira (21), o jornal O Estado de S. Paulo analisou a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, levando os juros a 14,25% ao ano — o maior patamar desde outubro de 2016. A publicação não apenas justificou a medida diante do cenário de inflação elevada, como também apontou a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como responsável direta pela permanência dos juros em níveis altos, nomeando o editorial de forma simbólica: “A paternidade dos juros altos”.
Alta dos juros era esperada, mas governo insiste em buscar culpadosSegundo o Estadão, a elevação da Selic já era esperada:“Não havia como ser diferente num contexto de inflação elevada, sob pressão e acima da meta”, destacou o texto. Mesmo assim, o editorial critica a narrativa do governo Lula, que tenta responsabilizar o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro, mesmo após sua saída do comando do BC.
O editorial sublinha que, quando Campos Neto estava à frente da instituição, o governo e aliados atacavam sistematicamente sua atuação. A então presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chegou a acusá-lo de “terrorismo econômico” e de não entender nada sobre as necessidades dos trabalhadores. Entretanto, após a posse de Gabriel Galípolo, indicado por Lula, o tom mudou drasticamente.
“Hoje ministra de Lula, Gleisi nada disse sobre a nova alta de juros. E o silêncio, neste caso, diz muito”, destaca o jornal.
Copom sinaliza novas altas; governo segue mirando Campos NetoA decisão do Copom, unânime, foi vista como necessária pelo mercado, e há expectativa de nova alta na reunião de maio, possivelmente de até 0,75 ponto percentual. Ainda assim, o governo insiste em manter a retórica de que Campos Neto é o responsável pela atual política monetária.
“Repetindo o que Lula havia dito em janeiro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que Galípolo não poderia dar um ‘cavalo de pau’ ao assumir o comando do BC, pois teria uma ‘herança’ a administrar. Só faltou dizer que era uma herança maldita”, ironiza o Estadão.
Postura fiscal do governo é apontada como fator de pressão sobre os jurosPara o jornal, a responsabilidade do governo na manutenção dos juros elevados é evidente. O editorial afirma que, caso a gestão petista colaborasse com responsabilidade fiscal e previsibilidade, os juros poderiam estar em “níveis mais civilizados”.
“Se o governo colaborasse e fizesse sua parte, talvez os juros já estivessem em níveis mais civilizados”, resume o texto.
Apesar de reconhecer que o cenário exige decisões duras por parte do Banco Central, o editorial conclui com pessimismo: “Há muitas outras medidas que devem contribuir para que os juros sejam mantidos em níveis bastante elevados. Resta saber quem o governo vai responsabilizar nos próximos meses.”