Com o tempo, o lado oculto da Operação Lava Jato veio à tona. Sentenças combinadas entre juízes e promotores; desvio de recursos apreendidos; utilização do Judiciário como arma política contra adversários. Estes são apenas alguns pontos problemáticos daquela operação que ajudou a ascensão de uma extrema direita autoritária no país. E um dos principais nomes dela, juíz Sergio Moro, acabou ministro do governo autoritário em questão. Um dos primeiros nomes que deu luz a todos estes escândalos foi um juiz federal: Eduardo Appio, que agora é protagonista de um livro sobre o caso.
“Por trás da máscara da justiça, escondiam-se jogos de poder, acordos obscuros e uma sanha por dinheiro que mancharia para sempre a imagem daqueles que se apresentavam como heróis.” Assim define autor responsável pela publicação, Salvio Kotter. A obra tem como título: “Tudo por Dinheiro: A ganância da Lava Jato segundo Eduardo Appio”.
Ilegalidades da Lava Jato
Depois de Appio, o Supremo Tribunal Federal (STF) reverteu boa parte das decisões do que ficou conhecido como “República de Curitiba”. As máscaras caíram e agora os algozes que usavam da Justiça como arma de poder agora são investigados. Mas para entender Appio, é preciso voltar no tempo. Em 2023, o juiz foi titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato. Lá, ele ficou menos de quatro meses. Expulso diante de um conluio no Judiciário local, Appio percebeu lá ilegalidades e abusos.
“Eu consegui retirar o sigilo dos processos mais importantes, quais sejam, a conta bancária que chegou a acumular uma transferência de R$ 5 bilhões de dinheiro da União. Era secreto, sigilo do Moro imposto desde 2016. O que se pretendia fazer com esse valor era a constituição de uma instituição privada, gerida por eles próprios, ou suas respectivas esposas ou alguém de sua confiança e que não estaria sujeita ao controle do Tribunal de Contas da União”, afirma o juiz em entrevista ao jornalista Leandro Demori, do programa Dando a Real, da TV Brasil
Segundo Appio, “Sergio Moro conseguiu sim, de fato, me tirar de campo, deu uma canelada, mas contou, obviamente, naquele momento, com a conivência e o apoio irrestrito de uma parcela importante do Tribunal Regional Federal da 4ª região, que sempre foi tido pela imprensa como o tribunal da Lava Jato.” De fato, o TRF da região Sul foi responsável por chancelar qualquer decisão de Moro. Inclusive, analisaram em uma tarde dezenas de milhares de páginas para sentenciar o presidente Lula à prisão.
Tudo por dinheiro
Estes e outros imbróglios da Lava Jato estão detalhados no livro que traz a versão de Appio. “Appio, com a coragem de quem testemunhou os horrores da máquina lavajatista em primeira mão,revela a trama sinistra que se escondia por trás da narrativa heroica. Através de seu relato, você descobrirá como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol manipularam o sistema judicial, forjaram acordos ilegais com o Departamento de Justiça dos EUA e se beneficiaram de um ciclo vicioso em que o dinheiro da corrupção retornava a quem a investigava”, afirma o autor.