Presidente Lula da Silva anunciou que o Brasil deve retaliar os Estados Unidos, caso a OMC não resolva a disputa comercial entre os dois países
Durante sua visita oficial ao Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o Brasil deve retaliar os Estados Unidos, caso o recurso à Organização Mundial do Comércio (OMC) não resolva a disputa comercial entre os dois países. Confira mais em TVT News.
O governo brasileiro planeja recorrer à OMC para contestar as tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtores nacionais de aço e alumínio, buscando restabelecer a política de cotas de exportação que vigorava até o início deste ano. A preocupação é que novas taxações possam ser anunciadas em breve, especialmente no próximo dia 2, com receio de que mais produtos brasileiros sejam alvo ou que todas as exportações passem a ser taxadas, conforme já sugerido pela Casa Branca.
“No caso do Brasil, nós vamos recorrer à OMC e, se não tiver resultado, a gente vai utilizar os instrumentos que nós temos que é a reciprocidade e taxar os produtos americanos. É isso que nós vamos fazer. Espero que o Japão faça o mesmo. Espero que o Japão possa recorrer à OMC, mas é uma decisão soberana do governo japonês em que eu não posso dar palpite”, declarou Lula durante entrevista coletiva em Tóquio.
Presidente Lula, durante entrevista coletiva à imprensa. Hotel Imperial, Tóquio – Japão. Foto: Ricardo Stuckert / PR
A intenção de acionar a OMC foi mencionada anteriormente pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que lidera as negociações comerciais sobre o aço com os EUA. Contudo, esta é a primeira vez que Lula confirma publicamente essa estratégia. Ao apelar à OMC, o Brasil tem duas possibilidades: que o país alvo reveja suas medidas protecionistas ou, caso mantenha as tarifas, a organização autorizará o Brasil a aplicar retaliações — algo que o governo já admite estar disposto a fazer.
Lula destacou que o Donald Trump “precisa medir as consequências dessas decisões”, que podem elevar a inflação nos Estados Unidos. No entanto, ele não especificou quando o Brasil formalizará o recurso à OMC para revisar as tarifas sobre aço e alumínio aplicadas pelos EUA.”É colocar em prática a lei da reciprocidade. Não dá para a gente ficar quieto, achando que só eles têm razão e que só eles podem taxar outros produtos”, afirmou o presidente.
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Recentemente, o governo brasileiro enviou uma manifestação formal ao governo americano alertando que o aumento das tarifas pode prejudicar “severamente” as relações comerciais bilaterais. Essa comunicação ocorreu durante a abertura de consultas públicas pelo gabinete do representante comercial dos EUA (USTR) sobre os anúncios de tarifas feitos pela Casa Branca. Diplomatas brasileiros, no entanto, reconhecem que há um desafio significativo: a OMC está enfraquecida e sem capacidade de mediar efetivamente essas disputas.
OMC Enfraquecida: Um Obstáculo à Resolução do Caso
Diplomatas brasileiros avaliam que a OMC está “paralisada”, incapaz de resolver divergências comerciais ou garantir a implementação de decisões. Esse cenário se deve ao fato de os Estados Unidos não terem indicado juízes para preencher vagas no órgão de solução de controvérsias, dificultando qualquer atuação significativa da entidade. Sem mecanismos para arbitrar conflitos, a OMC perde relevância como mediadora global de disputas comerciais.
Diante dessa realidade, a solução considerada mais viável no momento seria a negociação direta entre autoridades brasileiras, como o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, e representantes do governo americano para o comércio exterior. Diplomatas brasileiros ponderam que, como os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, é fundamental evitar escaladas que possam agravar as tensões. “Não dá para apagar um incêndio jogando gasolina”, concluíram.
Possíveis Impactos Econômicos e Políticos
A ameaça de retaliação brasileira contra produtos americanos reflete uma postura firme de defesa dos interesses econômicos nacionais, mas também envolve riscos. Economistas alertam que a imposição da reciprocidade sobre tarifas pode prejudicar setores da economia brasileira, além de criar um ambiente de incerteza para investidores estrangeiros. Por outro lado, especialistas em comércio internacional argumentam que a posição brasileira é justificada, uma vez que as tarifas impostas pelos EUA violam normas internacionais de livre comércio.
No entanto, analistas apontam que uma escalada de retaliações comerciais poderia complicar ainda mais as relações diplomáticas entre Brasil e EUA, afetando áreas estratégicas como segurança, tecnologia e meio ambiente.
Um Apelo à Diplomacia
Embora o tom do governo brasileiro seja assertivo, há sinais claros de que o diálogo permanece como prioridade. Durante sua passagem pelo Japão, Lula reiterou a importância de uma cooperação multilateral para resolver disputas comerciais, evitando medidas unilaterais que possam gerar instabilidade global. Ele destacou que o Brasil está disposto a negociar, desde que os EUA demonstrem igual compromisso com as normas internacionais.
Para especialistas, o desfecho dessa disputa será determinante para o futuro das relações comerciais entre Brasil e EUA. Se bem conduzida, a crise pode abrir caminho para uma renovação das parcerias econômicas, com benefícios mútuos.
Enquanto aguarda uma resposta concreta dos EUA, o Brasil segue monitorando os próximos passos com cautela, preparado para defender seus interesses tanto na OMC quanto por meio de medidas de reciprocidade. Resta saber se a diplomacia prevalecerá sobre a retórica protecionista, evitando assim um confronto desnecessário entre duas grandes economias.