Origem está relacionada ao massacre feito pelas forças do Estado na África do Sul, em Sharpeville
Hoje, 21 de março, é considerado o Dia Internacional contra a Discriminação Racial devido ao massacre feito pelas forças do Estado na África do Sul, em Sharpeville, província de Gautung, na África do Sul, que deixou 69 pessoas assassinadas e 186 feridas. Veja mais em TVT News.
Reportagem de Girrana Rodrigues
Massacre de Sharpeville, a origem completa 65 anos
O que foi o Massacre de Shaspreville: mais de 20 mil sul africanos foram às ruas contra a Lei do Passe, que exigia que os africanos andassem com uma caderneta com informações como cor, etnia, profissão e até determinava onde eles poderiam ir. Se as pessoas negras não apresentassem o documento, eram presas pelos policiais sul-africanos. A lei funcionava como um dos principais mecanismos de controle do apartheid, uma manifestação da discriminação racial.
O plano era realizar um ato pacífico, sem o documento, para que todos fossem presos e as administrações locais ficassem com problemas por causa do número de pessoas que estariam atrás das grades. Mas, um grupo de policiais decidiu atirar contra os manifestantes, o que levou a morte de 169 e deixou 186 feridos em Sharpeville.
Policiais agrediram pessoas negras na África do Sul. Foto: Fundação Cultural Palmares/Reprodução
Na época, o Congresso Nacional Africano (CNA) – um partido nascido da aliança entre sindicatos e movimentos – e o Partido Comunista Sul Africana (PSCA) foram proibidos. Após o massacre o CNA e o PSCA passaram a fazer parte da luta armada.
Em 1964, o grande líder do CNA, Congresso Nacional Africano, Nelson Mandela, é preso e condenado à prisão perpétua por sabotagem. Mandela só sai da prisão em 1991 aos 71 anos de idade. E em 1994 se torna o primeiro presidente negro da África do Sul, e pauta a luta contra a discriminação racial no país.
Em em memória às vítimas do massacre, em 1966, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou a data como Dia Internacional contra a Discriminação Racial.
Apartheid na África do Sul
O apartheid implementado na África do Sul, teve início em 1948 quando o Novo Partido Nacional ganhou as eleições. Apesar de serem minoria no país, os brancos criaram um regime de segregação racial que impedia, que os negros, que eram 8 milhões de pessoas, uma população quatro vezes maior do que a de brancos, fossem às urnas e transitassem por espaços que eram exclusivos para os brancos.
A discriminação racial era tão grande que até o casamento entre pessoas de diferentes etnias era proibido. As famílias foram separadas: maridos de esposas, mães de filhos. Apesar da violenta repressão, o regime só terminou em 1994.
Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé
No Brasil, desde 2023, a data celebra o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé instituída por meio de uma lei proposta pelo deputado Vicentinho (PT-SP) e sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No Brasil, data também marca Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Foto: Maria Eugenia Tita/Wiki Commons
A intenção é valorizar a importante manifestação cultural religiosa que enriquece e fortalece a diversidade de nossa sociedade. A data foi escolhida por dialogar com o marco escolhido pela ONU e estabelecer uma rede intercontinental de conscientização pelo Dia Internacional contra a Discriminação Racial.
No Brasil, o Candomblé já foi considerado crime e a prática da religião chegou a ser impedida. Em 2024, o Disque 100 registrou 2.472 denúncias de casos de intolerância religiosa. As religiões que mais sofreram intolerância foram a Umbanda e o Candomblé. Os números indicam uma alta de 66,8% em relação às denúncias de 2023.
Estado Laico e o terrorismo religioso
O termo terrorismo religioso tem sido utilizado por muitos sacerdotes e, embora para alguns pareça exagerado demonstra exatamente o que tem acontecido nas inúmeras casas de candomblé no território nacional. De norte a sul do país as casas de axé têm sido ameaçadas por vários motivos, um deles parte de locatários evangélicos que não aceitam alugar suas casas para entidades religiosas de matriz africana.
Mesmo com o artigo 5º da Constituição Federal que assegura a liberdade de consciência e de crença, garantindo o livre exercício dos cultos religiosos, o processo de demonização que foi forjado pela igreja católica e, em seguida, pelas igrejas neopentecostais fundamentalistas, ainda é hoje o que mais atrapalha a continuidade e uma harmonia entre os dogmas religiosos.
21 de março é a junção de duas datas: Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial e Dia das Religiões de Matriz Africana. Foto: Débora Britto/MZ Conteúdo
O que é o Dia da Consciência Negra
O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro e é feriado nacional no Brasil desde 2023. O Dia da Consciência Negra é uma data para refletir sobre a luta histórica e atual das negras e dos negros no Brasil contra o racismo, a discriminação e as desigualdades sociais. Instituída para honrar a memória e o legado de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, a data é um marco de resistência e resiliência para a população negra, e destaca a importância de valorização das contribuições culturais, sociais e políticas afro-brasileiras.
Por Girrana Rodrigues
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