Especialistas analisam a subida do dólar. Alta da moeda tem relação com cenário internacional. Para o economista Ricardo Balistiero, Coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT). “o dólar não está se valorizando só no Brasil. Ele está se valorizando no mundo inteiro”. Veja detalhes em TVT News.
Aumento do dólar é explicado pelo cenário internacional, afirma professor
O professor Ricardo Balistiero, economista e Coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) conversou com a TVT News sobre o aumento da moeda. De acordo com o economista, o que acontece com o dólar tem relação com o cenário internacional, principalmente a eleição de Trump. Leia a entrevista completa
TVT News: Por que o dólar está subindo tanto, mesmo com os leilões do Banco Central?
Professor Ricardo Balistiero: O que está acontecendo com o dólar é explicado muito fortemente pela eleição do Trump nos Estados Unidos. Ele se elegeu com uma proposta protecionista. Isso significa você sobretaxar produtos que são importados, principalmente os produtos chineses, o que vai acabar gerando um aumento de preços internamente nos Estados Unidos. Quando sobe o preço nos Estados Unidos, sobe a inflação e, naturalmente, o Banco Central Americano é obrigado a subir juros. O que o Banco Central norte-americano está fazendo agora? Ele está reduzindo os juros.
A partir do ano que vem a tendência, se o Trump colocar em prática a proposta de campanha, é que os juros tenham que começar subir. Quando isso ocorre, ele se torna um polo de atração e de capitais estrangeiros e o dólar se valoriza no mundo inteiro, que é o que está acontecendo. O dólar não está se valorizando só no Brasil. Ele está se valorizando no mundo inteiro. Então o que está acontecendo no Brasil é algo que o mundo está sentindo.
“Trump se elegeu com proposta protecionista. Isso significa sobretaxar produtos que são importados”, diz professor. Foto: RS/Fotos Públicas
TVT News: O quanto há de especulação do mercado na subida do dólar?
Professor Ricardo Balistiero: Além da eleição do Trump, há um segundo elemento é que o mercado de uma maneira geral não simpatiza com governos petistas. O mercado costuma desconfiar que governos petistas não tem compromisso fiscal, o que não é absolutamente verdade. Se nós pegarmos por exemplo os oito anos de governo Lula e a gestão deste governo, a equipe econômica tem perseguido meta de ajuste econômico, mas o mercado quer sempre mais. Porque a partir do momento que você gera a desconfiança, você mexe com todas as variáveis macroeconômicas e o mercado tem condições de ganhar mais dinheiro.
TVT News: O dólar vai continuar subindo?
Professor Ricardo Balistiero: Eu diria que a tendência nas próximas semanas é que essas coisas se acomodem e que o Congresso Nacional, ao que tudo indica, vá aprovar a proposta de ajuste fiscal. O Banco Central está na trajetória de alta de juros também. Então a tendência é de uma acomodação da taxa de câmbio, mas sem grandes reduções. Muito provavelmente o novo normal é um câmbio próximo de seis. Exatamente porque nós temos uma conjuntura internacional muito desfavorável e temos o mercado pressionando o governo do presidente Lula, tentando de alguma forma impor sua agenda, quando na realidade o governo tem a sua própria agenda e dentro dela está a responsabilidade fiscal.
Subida do dólar na terça, 17: reação à ata do Copom
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi publicada na manhã desta terça-feira (17). O documento anuncia o aumento da taxa Selic em um ponto porcentual, o que fixa o juros básicos para 12,25% ao ano. Em reação a esse aumento, o dólar disparou e chegou a marca de R$6,18 às 8h30 da manhã.
Cenário externo, juros do FED e eleição de Trump também impactam na cotação do dólar. Imagem: Wikimedia Commons
“A alta do dólar tem um componente especulativo. Ainda que o Brasil apresente deficit primário, ainda há instrumentos suficientes para ‘domar’ a dívida”, diz Flávio Málaga, professor do MBA Executivo e do MBA Finanças do Insper. “Risco efetivo ocorreria se não houvesse instrumentos, se o país estivesse encolhendo (PIB em queda), perdendo renda per capita, em uma trajetória explosiva de endividamento”, complementa.
O Copom justificou o aumento da Selic na ata. Segundo a instituição, foi feita uma análise do cenário econômico em que considerou, principalmente, o aumento constante do dólar recentemente e as reações negativas em relação ao pacote de corte de gastos do governo federal — que tenta aprovar ainda este ano.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio”, escreveu o Copom.
O professor Málaga afirma que “o mercado desconfia da ‘vontade’ do Congresso em fazer a lição de casa no pacote de ajuste fiscal em temas como o poder judiciário concedendo benefícios a si próprio, sem considerar a situação das contas do país e os militares brigando por manter o status quo de aposentadorias, entre outros componentes da remuneração”
Outro apontamento negativo foi o aumento da inflação de curto prazo ligada aos alimentos. O Copom considerou que o câmbio do dólar irá elevar os preços de modo que se torne um impacto de médio prazo.
Para Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, “as vendas no varejo chinês vieram abaixo das projeções, reforçando a pressão por novos estímulos econômicos”. De acordo com ele, a situação piora com as tensões comerciais previstas no novo governo Trump. “O mercado aguarda ainda a decisão de juros nos EUA, prevista para amanhã, com expectativa de um corte de 0,25%. O foco estará no pronunciamento do Fed e suas projeções para os próximos meses”.
Mercado financeiro ataca medidas que beneficiam os trabalhadores. É assim com a isenção do IR. Foi assim com o 13°. Foto: EBC
O Diretor de Tesouraria do Branza Bank, banco de câmbio de capital privado no Brasil, Bruno Perottoni, reflete que além da preocupação fiscal brasileira, o dólar tem aumentado pela própria valorização da moeda estadunidense. “Tivemos a manutenção do dólar norte-americano valorizado por conta dos sucessivos adiamentos de cortes de juros nos EUA, logo em seguida esse movimento ganhou mais tração com a vitória de Donald Trump nas eleições. Trump tem uma política externa mais rígida, com viés forte de defender os interesses econômicos do país e valorização da moeda”.
Entretanto, a instituição ligada ao Banco Central também reconheceu os avanços recentes na economia, “persiste um cenário de atividade resiliente com dinamismo maior do que esperado, como evidenciado na divulgação do PIB do terceiro trimestre, levando a nova reavaliação de um hiato mais positivo”.
A ata destacou também o mercado de trabalho que segue aquecido com o aumento da população ocupada e queda da taxa de desemprego — menor desde 2012.