No ano de 2019, o Japão causou polêmica ao se retirar da Comissão Internacional da Baleia, retomando a caça comercial de baleias, uma prática que havia sido suspensa desde 1986. Em 2024, essa ação se expandiu ao incluir a caça das baleias-comuns, além das espécies já permitidas, como a minke, Bryde e sei. As autoridades japonesas defendem que a recuperação das populações de baleias no Pacífico Norte justifica essa decisão de ampliar as atividades baleeiras ao longo de sua costa. Capturadas pela primeira vez em quase cinco décadas na costa norte do Japão, a carne foi leiloada na quinta-feira (12/12) por um valor superior a US$ 1.300 por quilograma, o equivalente a cerca de R$ 7.800.
Segundo o Japão, a decisão de reintroduzir as baleias-comuns na lista de caça foi baseada em pesquisas que indicaram uma recuperação populacional adequada. Neste contexto, o Japão estabeleceu uma cota combinada para 379 baleias de diferentes espécies, sendo esta dividida entre as quatro espécies mencionadas. Na temporada recente, cerca de 30 baleias-comuns foram capturadas, representando metade da cota permitida para essa espécie.
Como é o Mercado da Carne de Baleia no Japão?
Historicamente, a carne de baleia foi essencial na dieta japonesa, especialmente nas décadas que seguiram à Segunda Guerra Mundial, quando o país enfrentava escassez de alimentos. Naquela época, o consumo anual de carne de baleia alcançou picos de até 233.000 toneladas. Nos anos mais recentes, porém, esse número caiu drasticamente para cerca de 2.000 toneladas, reflitindo uma mudança nos hábitos alimentares da população.
Apesar do declínio no consumo, o Japão ainda busca revitalizar sua indústria baleeira, mirando um aumento na produção para 5.000 toneladas anuais. No leilão mais recente, por exemplo, 1,4 tonelada de carne de baleia-comum foi vendida em Hokkaido. A carne de cauda, uma iguaria conhecida como “onomi”, atingiu um preço alto, mostrando a valorização do produto no mercado local.
Por Que a Caça às Baleias É Controversa?
A caça às baleias no Japão é uma prática historicamente controversa, gerando críticas de grupos conservacionistas e ambientais em todo o mundo. Inicialmente, a prática era justificada por “pesquisa científica”, mas muitos viam essa justificativa como uma fachada para continuar com a captura dos mamíferos. Após a mudança para a caça comercial, os protestos diminuíram, mas a controvérsia persiste.
- Conservacionismo e Biodiversidade: Organizações de conservação se opõem à caça, citando o risco de impacto negativo sobre as populações de baleias e a biodiversidade marinha.
- Sustentabilidade: Especialistas questionam a viabilidade econômica da indústria baleeira japonesa sem os subsídios governamentais, imprescindíveis para sua sustentabilidade.
- Subsídios e Economia: A sobrevivência do comércio de carne de baleia depende fortemente de auxílio financeiro estatal, levantando dúvidas sobre seu futuro em longo prazo.
Qual a Sustentabilidade da Indústria Baleeira no Japão?
A indústria baleeira japonesa enfrenta desafios não apenas de ordem ética e ambiental, mas também econômicos. Com uma demanda interna que tende a diminuir, a indústria só se sustenta através de subsídios vultosos que, segundo críticos, chegam a centenas de milhões de ienes. Especialistas como Nobuhiro Kishigami, do Museu Nacional de Etnologia de Osaka, apontam que, embora o consumo de carne de baleia ocorra em algumas cidades, não é uma prática comum em áreas urbanas como Tóquio.
A carne de baleia ganhou status de iguaria, com preços elevados em comparação com outras carnes, o que também limita o acesso e diminui o consumo. A possibilidade de viabilizar a indústria sem o suporte financeiro governamental é colocada em dúvida por muitos analistas, que creem que sem redução de custos e aumento da demanda, o comércio pode não ser sustentável.
O Japão enfrenta pressão internacional para revisitar suas práticas de caça às baleias. No cenário global, onde o conservacionismo e a proteção da vida marinha ganham crescente apoio, o país pode encontrar desafios mais significativos injustificando suas práticas de caça à comunidade internacional. A questão continua sendo se o Japão encontrará uma maneira de equilibrar suas tradições culturais e necessidade econômica com as demandas por sustentabilidade e conservação.