Desde o mês de agosto, o Brasil enfrenta uma série de incêndios e queimadas, em meio à maior seca da história do país. O Governo Federal, através da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, está estudando formas de confiscar terras de autores de incêndios florestais criminosos no país.
Nas últimas semanas, o agronegócio vêm sofrendo ataques, sendo frequentemente apontado como culpado pelos incêndios criminosos. Segundo o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), o Brasil conta com uma legislação fraca para punir os culpados e é imprudente culpar o setor agropecuário pelos incêndios.
Os Prejuízos do Fogo para o Produtor Rural
Para entender melhor como o fogo afeta o solo de propriedades rurais, o Agro Times conversou com Alberto Bernardi, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste. Segundo ele, o incêndio pode desencadear um ciclo de empobrecimento do solo, resultando em perdas de nutrientes e aumento da suscetibilidade à erosão.
Além das perdas na produção, que afetam culturas, pastagens e áreas de proteção, os prejuízos também se estendem à infraestrutura, como cercas, bebedouros e instalações elétricas e hidráulicas. Bernardi explica que a remoção da biomassa após um incêndio deixa o solo exposto, o que, por sua vez, torna-o mais vulnerável aos elementos.
Como o Solo é Afetado pelas Queimadas?
Durante a queima, ocorre a volatilização de nutrientes como nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P), que são perdidos com a fumaça e vapores. Após a queima, as cinzas remanescentes, embora ricas em cálcio (Ca), magnésio (Mg) e potássio (K), podem ser levadas pelo vento, exacerbando a perda de nutrientes.
As altas temperaturas afetam também a biologia do solo, eliminando organismos úteis para o ciclo do carbono e dos nutrientes. Mesmo que o efeito do incêndio se limite às camadas superficiais do solo, entre 1 a 5 centímetros, o processo de degradação pode ser acentuado com a perda de matéria orgânica necessária à nova vegetação.
Tempo de Recuperação e Medidas de Prevenção
O tempo de recuperação do solo depende da intensidade do incêndio e do tipo de cultura afetada. Segundo Bernardi, culturas anuais e de pastagem podem ser replantadas e recuperadas em uma safra, enquanto culturas perenes podem precisar de várias safras para recuperação completa.
Para a recuperação química dos solos, a correção e adubação, após diagnóstico e análise da área, podem ser eficazes. Estabelecer uma cobertura vegetal também ajuda a reduzir os efeitos da erosão. No entanto, o restabelecimento da matéria orgânica é um processo mais longo, podendo levar até três anos para ser concluído.
Quais Medidas Podem Ser Adotadas para Prevenir Incêndios?
Bernardi destaca a importância de práticas preventivas, como evitar o fogo, construir e manter aceiros, realizar monitoramento constante, organizar o descarte de lixo e entulhos, e gerir materiais inflamáveis. Tais medidas são essenciais para minimizar os riscos de novos incêndios.
Os custos de recuperação do solo variam conforme o estado do solo, a região e a tecnologia utilizada. Estima-se que a recuperação de pastagens gire em torno de R$ 1.500 – R$ 3.000 por hectare, enquanto culturas anuais, como milho e soja, podem custar de R$ 4.500 – R$ 6.000 por hectare.
O impacto das queimadas no Brasil é significativo e exige atenção e ações efetivas para a recuperação e preservação do solo. A adoção de medidas preventivas e corretivas pode ajudar a mitigar os danos e promover a sustentabilidade do agronegócio no país.