“Ouvir” diz respeito apenas à audição. “Escutar” é sobre compreender, interpretar o que se fala.
“Quando a pessoa é escutada ela consegue se ouvir. Consegue entender, ouve e compreende sua dor. Então, ela passa a ter condição de tomar decisões corretas, de colocar os pensamentos no lugar”, afirma a advogada e voluntária na prevenção ao suicídio Tatiana Andrade. Ela atua há três anos com este serviço essencial às pessoas que passam por momentos de desespero. A TVT News conversou com ela hoje (10), neste Dia Internacional de Prevenção ao Suicídio.
Em pauta, a relevância de acompanhamento psicológico especializado e de serviços como o do Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende de forma gratuita pelo telefone 188 desde 1962. O CVV conta com cerca de 3.500 voluntários em todas as regiões do país e atende mais de 3 milhões de ligações por ano. O centro é uma associação sem fins lucrativos, uma das idealizadoras do Movimento Setembro Amarelo.
Setembro Amarelo: vamos falar
Nesta época, aumenta a procura por ajuda. E Tatiana explica que falar sobre o tema é essencial. “A divulgação sempre é muito importante. Embora muitas vezes as pessoas pensem que falar sobre o tema desperta curiosidade para que as pessoas queiram fazer alguma coisa, a informação sempre é a melhor opção”, conta.
Isso porque a informação pode dar luz a quem precisa. “As divulgações do Setembro Amarelo mostram resultados no sentido de que pessoas às vezes nem sabem que existem serviços de acolhimento para esses problemas. Pessoas então buscam ajuda porque não sabiam que existia esse atendimento.”
Confira a entrevista completa
TVT News: Tatiana, há quanto tempo atua na prevenção ao suicídio?
Trabalho há três anos com prevenção ao suicídio. Em atendimento a pessoas que buscam ajuda nessa situação. Essencialmente, é importante para uma pessoa em cenário de crise, em um momento desse, quando há muito desespero envolvido, que ela se sinta acolhida.
Como geralmente se desenvolvem esses primeiros atendimentos?
Em um primeiro momento, a pessoa sente esse acolhimento. Ela percebe que a dor é respeitada por outra pessoa. Muitas vezes as pessoas querem ajudar mas acabam exercendo essa vontade de uma outra forma. com aconselhamento, julgamento, falas como ‘eu faria isso ou aquilo’. Uma pessoa em momento de desespero ela quer ser compreendida. Ela não precisa de julgamento. Então, essencialmente, a preocupação neste momento é deixar a pessoa perceber que ela é compreendida.
O que é mais essencial para uma pessoa que precisa neste primeiro momento?
A escuta é essencial. A escuta e o acolhimento são fundamentais em um momento de dificuldade. Quando a pessoa é escutada ela consegue se ouvir. Consegue entender, ouve e compreende sua dor. Então, ela passa a ter condição de tomar decisões corretas, de colocar os pensamentos no lugar.
O isolamento típico da sociedade da informação, em sua percepção, alterou o cenário da prevenção?
O isolamento e a pandemia contribuíram para o agravamento disso tudo. O ser humano é sociável por natureza. Em períodos de isolamento, o afastamento fez com que muitos episódios servissem de gatilho para essas pessoas que já possuem dificuldade de entender, de lidar com esses problemas.
A prevenção deve ser acompanhada de um tratamento? Como isso é trabalhado? Existe um aconselhamento durante um atendimento de crise?
A prevenção passa sempre por um acompanhamento, por um entendimento do que as pessoas vivenciam em termos de drama. O tratamento médico é indispensável. O acompanhamento psicológico é muito importante. É uma conjunção de fatores; cuidar da mente, do corpo, para manter o equilíbrio.
Conta um pouco da sua experiência com o Setembro Amarelo. Sua efetividade, importância, se existem gatilhos relacionados à divulgação do tema, se mais pessoas buscam ajuda.
A divulgação do tema sempre é muito importante. Embora muitas vezes as pessoas pensem que falar sobre o tema desperta curiosidade para que as pessoas queiram fazer alguma coisa, a informação sempre é a melhor opção. Então, as divulgações do Setembro Amarelo mostram resultados no sentido de que pessoas às vezes nem sabem que existem serviços de acolhimento para esses problemas. Pessoas que buscam ajuda são indicadas a isso porque não sabiam que existia esse atendimento.