Cientistas que estudam a nova cepa de Mpox na República Democrática do Congo (1b) afirmam que o vírus sofre mudanças em ritmo mais rápido do que o esperado. Essa evolução levanta preocupações sobre a gravidade da cepa, bem como possíveis modos de transmissão. A situação tem especial gravidade pela falta de recursos financeiros e equipamentos adequados nas áreas mais afetadas.
O Dr. Dimie Ogoina, especialista em doenças infecciosas da Nigéria, expressou preocupação com a falta de conhecimento detalhado sobre a situação da mpox na África. “Preocupa-me que na África estejamos trabalhando às cegas”, afirmou em entrevista à agência Reuters. Segundo ele, a nova cepa, conhecida como clado Ib muda mais rápido do que variantes anteriores, que demoram cinco anos ou mais para evoluir. “Preocupa-me que na África estejamos trabalhando às cegas”, disse.
Riscos com a Mpox
Já a biomética e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra lembra que esta variante ainda não circula oficialmente no Brasil. Contudo, há riscos. “Mpox nunca deixou de circular, e até o momento, o vírus detectado no país não é o clado Ib, responsável pelo surto da República Democrátia do Congo e países vizinhos e outras regiões, como Suécia, Paquistão. Mas não significa que ele já não esteja circulando aqui”, argumenta.
Então, ela argumenta que “é por isso que é tão importante estar atento aos sintomas e testar (…) Ampliar a testagem e vigilância genômica para identificar clados em circulação é fundamental neste momento. Se tiver sintomas, procure assistência”, alerta.
Vacinação
A proteção global contra a mpox, baseada em vacinas desenvolvidas há 50 anos, diminuiu com o tempo. A vacinação foi interrompida após a erradicação da doença. E a falta de imunização adequada contribui para o aumento da vulnerabilidade global diante da nova cepa.
Embora o mpox seja um problema de saúde conhecido em partes da África desde a década de 1970, a doença só ganhou atenção global em 2022, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma emergência de saúde pública. Eles encerraram a emergência dez meses depois. Contudo, o alerta recente sobre o clado Ib coloca novamente a mpox em foco, que retomou ao status de emergência global no dia 14 de agosto.
Sintomas
O clado Ib, uma mutação do clado I endêmico no Congo, tem causado sintomas semelhantes aos da gripe, com peculiaridades. Particularmente esta cepa pode evoluir para quadros fatais. Este ano, o Congo registrou mais de 18 mil casos e 615 mortes. Além disso, houve 222 casos confirmados em outros quatro países africanos e dois casos fora da África, na Suécia e na Tailândia.
A lista de sintomas inclui: dor de cabeça, ínguas, calafrio, fraqueza, lesões na pele, febre e dores no corpo. Já sua transmissão possui relação com contato pessoal. “Mpox é uma doença que pode se transmitir pelo contato sexual e vimos que redes de transmissão dentro desse aspecto tiveram uma participação importante em novos casos na emergência de 2022. Mas o vírus também se transmite por contato próximo e prolongado”, destaca Mellanie.
“Isso significa que o vírus pode se transmitir através do contato pele-pele, contato com superfícies e objetos contaminados, contato respiratório próximo e direto (através da liberação de gotículas por alguém infectado), além do contato com animais infectados e suas secreções”, completa.
Resposta à Mpox
Em resposta à Mpox, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em conjunto com suas secretarias, criou o Comitê de Operações em Emergências em Mpox. “Após a alta de casos no continente Africano e seguindo as orientações da OMS, criamos o Comitê de Operações em Emergências em Mpox (COE-Mpox)”, destaca a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel.
“Os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens), assim como outros 3 laboratórios de referência nacional, estão ampliando a capacidade de diagnóstico para toda a população. Neste momento há uma intensificação para não espalhar os casos do continente Africano para outros lugares do mundo”, completa Ethel.
Internacional
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou ontem (16) um plano contra a Mpox. A resposta exigirá US$ 135 milhões nos próximos seis meses. Em nota, emitida em Genebra, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, enfatiza que é preciso uma resposta internacional coordenada à medida que os casos se espalham da África para a Europa e Ásia.
“O Plano Estratégico de Preparação e Resposta Global Mpox foi criado para interromper a transmissão entre humanos por meio de esforços coordenados em níveis global, regional e nacional. Então, as áreas de ação envolvem vigilância ampla, planos de resposta e garantia de acesso equitativo a contramedidas médicas”, informa nota da OMS.